sábado, 13 de novembro de 2010

As muitas formas de comunicar-nos

Convivemos com muitas formas de comunicação, que proclamam muitas situações pessoais, interpessoais, grupais e sociais de conhecer, sentir e viver, que são dinâmicas, que vão evolucionando-se, modificando-se, modificando-nos e modificando os outros.

A comunicação superficial - expressa mais a exterioridade das coisas, já as profundas - desvenda quem somos, como pensamos, por que agimos de determinada forma.

Existem comunicações autênticas - que expressam o que somos, até onde nos percebemos, que manifestam coerentemente a nossa percepção de nós mesmos e dos outros. Os processos de comunicação inautênticos, que não correspondem ao que percebemos, pensamos e sentimos, que servem a determinados propósitos, que podem levar-nos a deturpar a leitura que os outros fazem de nós - mais ou menos propositalmente.

Os procedimentos de comunicação que produzem mudanças, são bastantes relevantes e os processos não nos modificam, nos deixam onde estávamos, nos confirmam em nossos universos mentais pessoais ou grupais, necessitam ser avaliados para que possamos progredir em todos os âmbitos de nossas vidas .

A comunicação aparente

É a ação de "comunicação" onde o indivíduo fala e responde, sem prestar verdadeiramente atenção ao outro e ao que está dizendo. Cada um precisa "desabafar", ter alguém com quem conversar.

Uma inconstante da conversação aparente é a de duas ou mais pessoas que já estão prevenidas em relação às outras e que já sabem de antemão (ou imaginam) o que elas vão dizer como pensam que respostas vão dar. Com isso, não estão atentas a qualquer informação nova, porque não a esperam de antemão. Vão para a interação na realidade para um confronto ou para um convencimento. Eu vou mudar o outro, não a interagir com ele. Vou impor o meu ponto de vista.

Pais e filhos costumam, com freqüência, ter interações superficiais baseadas na avaliação prévia que uns têm dos outros. Há pais que aconsideram que seus filhos precisam ser orientados em tudo, pela sua inexperiência. Por sua vez esses filhos "acham os pais caretas", cheios de desconfiança e repetitivos: sempre dão os mesmos conselhos. Neste caso, pode estar juntos, "conversar", mas será uma conversa surda, que provavelmente terminará em fracasso.

A comunicação superficial

É a interação limitada, com trocas previsíveis sobre temas socialmente definidos e com limites pré-estabelecidos - culturalmente ou pelos grupos e indivíduos.

Fala-se animadamente, mas sem interação pessoal, sem revelar o eu profundo a não ser neste campo específico.

O trabalho profissional é importante - além das suas dimensões econômicas e de valorização pessoal - como espaço de comunicação. Nele encontramos espaços de conversa superficial, ritual, de aceitação grupal, de desabafo. Não são interações profundas, mas esse contato é fundamental para muitos, carentes de outras formas de comunicação mais rica.

A complicação da vida, as competições ferozes pela sobrevivência, dificultam a probabilidade de adolescer artifícios de comunicação pessoais e grupais mais profundos. Na falta dessas interações pessoais, muitos se relacionam com as mídias, principalmente com a televisão, num tipo de interação virtual, que se dá principalmente no imaginário de cada um. Todos nos "encontramos" na televisão, só que terminamos refletindo pedaços de nós nas várias telas. Na televisão procuramos dimensões da vida mal preenchidas no cotidiano.

A "comunicação" autoritária

É a troca ou interação dentro de um sistema fechado, onde se expressam relações de poder, de dominação. É uma fala onde quem tem algum poder procura dominar o outro, impor seus pontos de vista, controlar. O outro se transforma em "receptor", destinatário e só pode concordar com o emissor.

É uma interação autoritária explícita, clara e outra, implícita, camuflada..

O capitalismo, quanto mais avança, mais refina sua linguagem - cada vez mais humanista - e esconde os mecanismos de dominação. O marketing é a ciência aplicada ao controle, à manipulação disfarçada de preocupação humanitária.

A comunicação real

Na interação real os parceiros estão abertos e querem trocar idéias, vivências, experiências, das quais ambos saem enriquecidos. O discurso é franco, objetivo, participativo.

Os vários graus de comunicação real:

O primeiro grau - acontece, por exemplo, numa conversa ocasional entre duas pessoas que falam e se ouvem de forma animada e aberta. Pode existir uma comunicação viva, mas sem levar necessariamente a sua continuidade.

O segundo grau - vemos a comunicação aberta entre duas ou mais pessoas, que interagem habitualmente. É a comunicação entre alguns colegas de trabalho, entre amigos, entre alguns professores e alunos.

O terceiro grau - observamos a interação entre pessoas que se comunicam profundamente, que têm seus próprios códigos verbais e não verbais. É a comunicação das pessoas que desenvolvem relações afetivas maduras, que crescem em riqueza, em abrangência.

Os níveis de comunicação apontados - mais superficiais ou profundos, mais autênticos ou inautênticos - se dão em várias instâncias: na comunicação pessoal (de cada um para consigo), na comunicação interpessoal (de um com um ou com alguns), na comunicação grupal, organizacional e na social ou coletiva.

Devemos gerenciar bem as formas de comunicar-se

O campo onde se decide realmente a comunicação é o pessoal, o intrapessoal, que interfere profundamente nas outras formas de comunicação.

A comunicação pessoal se desenvolve dentro de nós. São nossas falas internas, os diálogos tensos entre as várias tendências conflitantes, a fala emocional e a racional, a fala consciente e a inconsciente, a fala do passado e a do presente, as falas introjetadas e as novas falas, as falas do desejo e as do medo, as do real e as do imaginário, as que provêm da informação e as que provêm da ação, a comunicação das sensações, das intuições e das idéias. A comunicação mais difícil é a intrapessoal: conseguir expressar as múltiplas vozes que se manifestam em nós, coordená-las, integrá-las e orientá-las para uma vivência cada vez mais enriquecedora.

Comunicamo-nos melhor se aprendemos a dialogar com as nossas tendências contraditórias.

Aprendemos e evoluímos também pela comunicação com os outros, pelas múltiplas formas de comunicação interpessoal. Recebemos informações, afeto, críticas, visões de mundo, interações e fazemos o mesmo com os outros. Servimos aos outros de espelho e nos espelhamos neles e por meio deles. Captamos o que nos interessa, o que tem a ver conosco, o que desejamos e odiamos, o que nos atrai e o que nos repugna (mas que se relaciona conosco).

Pela comunicação interpessoal - expressamos o melhor de nós e buscamos também o nosso eixo, encontrar-nos, compreender-nos a partir de como os outros nos vêem.

Há comunicações interpessoais superficiais, episódicas, temporárias, dirigidas para objetivos específicos e há outras mais profundas, ricas, estáveis, intensas, decisivas.

Vivemos processos de comunicação autênticos e inautênticos.

Em cada um de nós se definem as mudanças mais radicais que afetarão a toda a sociedade. Quanto mais livre é a pessoa, melhor se comunica. Quantas mais pessoas conseguirem mudar, evoluir, tornar-se mais flexíveis, ricas, generosas - pessoalmente e em grupo - mais facilmente a sociedade evoluirá. A mudança pessoal é a pedra de toque para as mudanças grupais, organizacionais e sociais.

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