INTRODUÇÃO
A Paralisia Cerebral foi descrita em 1843, quando William John Little, um ortopedista inglês, descreveu 47 crianças portadoras de rigidez espástica. O termo PC foi introduzido por Freud enquanto estudava a “Síndrome de Little”. Segundo este último, "paralisia cerebral é uma desordem do movimento e da postura, persistente, porém variável, surgida nos primeiros anos de vida pela interferência no desenvolvimento do Sistema Nervoso Central, causada por uma desordem cerebral não progressiva."
O termo paralisia cerebral (PC) é usado para descrever um grupo de disfunções dos movimentos e da coordenação motora. É considerado por muitos autores inadequado, pois significaria uma ausência total de atividades físicas e mentais, o que não ocorre nestes quadros. Talvez fosse mais correto o emprego do termo genérico, “criança com lesão cerebral”.
A PC tem mantido a mesma incidência nos últimos anos. A das formas moderadas e severas está entre 1,5 e 2,5 por 1000 nascidos vivos nos países desenvolvidos; mas há relatos de incidência geral, considerando todos os níveis de comprometimento de até 7:1000.
O dano causado pela paralisia cerebral pode ser desde muito leve até gravíssimo. Cada indivíduo PC é totalmente diferente do outro. Dependendo de quais áreas do cérebro foram afetadas, pode ocorrer rigidez ou espasmo muscular, movimentos involuntários, falta de coordenação motora, problemas com a fala, com a visão, com a audição, percepção tátil, convulsão e déficit intelectual.
1 DA PATOLOGIA
Atualmente, o termo Paralisia Cerebral vem sendo usado como o significado do resultado de um dano cerebral , que leva à inabilidade, dificuldade ou o descontrole de músculos e de certos movimentos do corpo. O termo Cerebral quer dizer que área atingida é o próprio Sistema Nervoso Central e a palavra Paralisia refere-se ao resultado do dano ao mesmo, afetando os músculos e coordenação motora, dos portadores desta condição especial de ser e estar no mundo.
As crianças afetadas por Paralisias Cerebrais têm uma perturbação do controle de suas posturas e dos movimentos do corpo, como conseqüência de uma lesão cerebral. Estas lesões possuem diversas causas, freqüentemente devido à falta de oxigenação antes, durante ou logo após o parto, não existindo dois casos semelhantes, pois algumas crianças têm perturbações sutis, quase imperceptíveis, aparentando serem "desajeitadas" ao caminhar, falar ou usar as mãos, enquanto que as submetidas a lesões cerebrais mais graves, a exemplo de casos de anóxia neonatal, podem apresentar incapacidade motora acentuada, impossibilidade de falar, andar e se tornam dependentes para as atividades cotidianas.
1.1 Tipos
Dependendo da localização das lesões e áreas do cérebro que foram afetadas, as manifestações podem ser diferentes. Há três formas (tipos) mais comuns e pode-se classificar um quarto tipo de Paralisia Cerebral que seria uma combinação de 2 ou mais formas.
O córtex controla os pensamentos, os movimentos e as sensações. Uma anormalidade nela pode resultar na Paralisia Cerebral do tipo Espástica. Caracterizada por aumento e paralisia de tonicidade dos músculos. Pode haver um lado do corpo afetado (hemiparesia), os membros inferiores (diplegia), ou os 4 membros (quadriplegia).
Os Gânglios da Base ajudam a organizar os movimentos finos e delicados. Uma anormalidade deles pode resultar na Paralisia tipo Atetóide. Caracterizada por distonia (variações da tonicidade muscular) e movimentos involuntários afetando o Sistema Extra-Piramidal.
O cerebelo controla e coordena os movimentos, as posturas e nosso equilíbrio. Uma anormalidade nele pode resultar na PC tipo Atáxica. Esta se caracteriza por diminuição da tonicidade muscular, dificuldade para se equilibrar com descoordenação dos movimentos, podendo haver movimentos trêmulos das mãos e fala comprometida.
Os tipos mistos de paralisia cerebral ocorrem com freqüência: quando a criança combina características dos vários quadros, embora tenha predominância maior de um deles. De acordo com os membros atingidos pelo comprometimento neuro-muscular podemos ter o grupo das displegias onde as crianças apresentam um comprometimento maior das extremidades inferiores do que das superiores; o grupo das crianças com quadriplegia que apresenta um comprometimento do corpo todo e o grupo das hemiplegias onde a criança apresenta um dimídio (lado) do corpo comprometido.
1.2 CAUSAS
Há 3 tipos de fatores que predominam, apesar de que as categorizações iniciais dos tipos de PC têm-se mostrado inconsistentes, pois uma única criança pode mudar de uma categoria diagnóstica para outra durante o processo de maturação.
a) Fatores pré-natais: São aqueles que aparecem antes do nascimento e citamos como principais causas: Alterações genéticas e/ou congênitas, sendo as mais importantes doenças infecciosas contraídas durante a gravidez (toxoplasmose, rubéola, herpes, sífilis), exposição prolongada e inadequada aos Raios-X, uso de drogas e/ou álcool durante a gravidez, hidrocefalia, hemorragias do período gestacional, eclampsia, diabetes gravídica, etc.
b) Fatores peri-natais: Os problemas seriam causados por complicações ocorridas no momento do parto, que causariam sofrimento fetal com baixa oxigenação cerebral e conseqüente lesão do Sistema Nervoso Central, um exemplo clássico é a falta de oxigênio.
c) Fatores pós-natais: Ocorrem após o nascimento da criança e secundariamente a processos infecciosos do sistema nervoso central , principalmente encefalites e meningites, abscessos cerebrais, traumatismos cranianos, dentre outros.
1.3 Prevenção
Acompanhamento pré-natal regular e boa assistência ao recém-nascido na sala de parto diminuem a possibilidade de certas crianças desenvolverem lesão cerebral permanente, por outro lado, muitas das crianças que superam situações críticas com a ajuda de recursos sofisticados das terapias intensivas neonatais modernas, principalmente os prematuros, sobrevivem, mas com seqüelas neurológicas. Portanto, apesar de ter havido uma evolução importante em termos do atendimento à gestante e ao recém-nascido na sala de parto, nos últimos 40 anos não houve uma redução significativa da prevalência da PC mesmo nos países desenvolvidos.
Todo esforço para que o período gestacional seja o mais saudável possível através da manutenção de uma boa nutrição e da eliminação do uso de álcool, fumo, drogas e medicações sabidamente teratogênicas deve ser feito, pois estas medidas estarão contribuindo para a prevenção de alguns tipos de PC. A rubéola congênita pode ser prevenida se a mulher for vacinada antes de se engravidar. Quanto à toxoplasmose materna, medidas de higiene, como não ingerir carnes mal cozidas ou verduras que possam estar contaminadas com fezes de gato são importantes. As gestantes com sorologia positiva devem ser adequadamente tratadas, diminuindo assim os riscos de infecção fetal. A incompatibilidade Rh pode ser facilmente prevenida (vacina anti-Rh+) e identificada. Quando a bilirrubina não conjugada no recém-nascido atinge níveis críticos, a criança deve ser submetida à ex-sanguíneo-transfusão (troca de parte do volume sanguíneo). O tratamento adequado da incompatibilidade sanguínea reduziu em muito a incidência da PC com movimentos involuntários.
1.4 Diagnóstico
O tipo de alteração do movimento observado está relacionado com a localização da lesão no cérebro e a gravidade das alterações depende da extensão da lesão. A PC é classificada de acordo com a alteração de movimento que predomina.Formas mistas são também observadas.
Dificuldade de sucção, tônus muscular diminuído, alterações da postura e atraso para firmar a cabeça, sorrir e rolar são sinais precoces que chamam a atenção para a necessidade de avaliações mais detalhadas e acompanhamento neurológico.
A história clínica deve ser completa e o exame neurológico deve incluir a pesquisa dos reflexos primitivos (próprios do recém-nascido), porque a persistência de certos reflexos além dos seis meses de idade pode indicar presença de lesão cerebral. Reflexos são movimentos automáticos que o corpo faz em resposta a um estímulo específico. O reflexo primitivo mais conhecido é o reflexo de Moro que pode ser assim descrito: quando a criança é colocada deitada de costas em uma mesa sobre a palma da mão de quem examina, a retirada brusca da mão causa um movimento súbito da região cervical, o qual inicia a resposta que consiste inicialmente de abdução (abertura) e extensão dos braços com as mãos abertas seguida de adução (fechamento) dos braços como em um abraço. Este reflexo é normalmente observado no recém-nascido, mas com a maturação cerebral, respostas automáticas como estas são inibidas. O reflexo de Moro é apenas um dentre os vários comumente pesquisados pelo pediatra ou fisioterapeuta.
Depois de colhida a história clínica e realizado o exame neurológico, o próximo passo é afastar a possibilidade de outras condições clínicas ou doenças que também evoluem com atraso do desenvolvimento neurológico ou alterações do movimento como as descritas anteriormente.
Exames de laboratório (sangue e urina) ou neuroimagem (tomografia computadorizada ou ressonância magnética) poderão ser indicados de acordo com a história e as alterações encontradas ao exame neurológico. Estes exames, em muitas situações, esclarecem a causa da paralisia cerebral ou podem confirmar o diagnóstico de outras doenças.
Em geral, o diagnóstico de paralisia cerebral sugere que o individuo em questão tem algum distúrbio central de postura e movimento. Além disso, o processo de identificação com freqüência mostra partes do corpo que estão primariamente envolvidas.
2 TRATAMENTO
Não há medicamentos nem operações que possam curar uma paralisia cerebral, havendo, porém, diversas e inovadoras possibilidades de melhorar e minimizar seus efeitos. Estes progressos não são súbitos, mas demorados, avançando progressivamente e na dependência direta dos recursos tecnológicos, como o uso da Informática na EDUCAÇÃO e dos recursos terapêuticos colocados à disposição da comunidade. As crianças com PC têm muitos problemas, mas nem todos são relacionados com as lesões cerebrais. Citaremos apenas os que mais freqüentemente se manifestam
2.1 Desordens associadas
Epilepsia: é comum ocorrerem convulsões ou crises epilépticas, de maior ou menor intensidade e dentro das mais variadas formas desta manifestação neurológica, sendo mais comuns no período pré-escolar, estando associadas ao prognóstico e à evolução de outros problemas que atingem um paralisado cerebral.
Deficiência Mental: com uma ocorrência de aproximadamente 50% dos casos, tem levado a distorções e preconceitos acerca dos potenciais destes portadores de deficiência, devendo-se diferenciar os diversos graus de comprometimento mental de cada criança, baseando-se em acompanhamento especializado e evolutivo das mesmas.
Deficiências Visuais: ocorrem casos de baixa-visão, estrabismos e erros de refração, que podem ser precocemente diagnosticados e tratados, com bom prognóstico oftalmológico, devendo-se intensificar sua diagnose com os novos avanços em tecnologia e a correção preventiva de danos com uso de lentes ainda nos primeiros anos de vida.
Dificuldades de Aprendizagem: as crianças com paralisia cerebral podem apresentar algum tipo de problema de aprendizagem, o que não significa que elas não possam ou não consigam aprender, necessitando apenas de recursos aprimorados de Educação Especial, integração social em Escolas Regulares, uso de Recursos Tecnológicos, a exemplo do uso de Computadores e outros aparelhos informatizados
para o estímulo e a busca de meios de comunicação e aprendizagem inovadores para eles.
Dificuldades de Fala e Alimentação: devido à lesão cerebral ocorrida, muitas crianças com esta necessidade especial apresentam problemas de comunicação verbal e dificuldades para se alimentar, devido ao tônus flutuante dos músculos da face, o que prejudica a pronúncia das palavras com movimentos corretos, podendo-se recorrer a tratamentos especializados e orientação fonoaudiológica, a fim de minimizar e até resolver alguns destes distúrbios. E para as crianças que não falam, já contamos com os comunicadores alternativos e as linguagens através de símbolos.
Desordens da sucção, mastigação e deglutição são comuns a estas crianças. Todos estes fatores contribuem para uma ingestão alimentar abaixo das necessidades. Além disso, muitas crianças com limitações motoras são mantidas por longos períodos com dietas próprias para bebês.
A dieta deve ser planejada de acordo com as características clínicas e as limitações de cada criança. Por exemplo, para facilitar a deglutição e reduzir o refluxo de parte do conteúdo gástrico para o esôfago, recomenda-se manter a criança com a cabeça e o tronco em posição semi-elevada durante e por alguns minutos após cada refeição. Nas crianças com refluxo gastresofágico, as refeições devem ser de menor volume e oferecidas em intervalos de tempo menores para que não haja prejuízo do total de nutrientes ingeridos em um dia. As crianças com dificuldade para deglutirem líquidos, devem ser alimentadas com pequenos volumes de dieta pastosa e de sucos engrossados com frutas e gelatinas procurando-se assim manter um bom nível de hidratação.
2.2 Tratamentos importantes
2.2.1 Tratamento ortopédico especializado
O tratamento com médico-ortopedista, como procedimento de uma equipe multiprofissional, é imprescindível para a prevenção e correção de possíveis deformidades dos membros superiores e inferiores, já que este profissional poderá interagir para que a criança possa se tornar o mais independente possível, avaliando a necessidade de cirurgias, aparelhos ortopédicos de correção (órteses e próteses), ou adaptações a serem construídas em conjunto com Fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.
Algumas das principais deformidades que ocorrem nas crianças com paralisia cerebral são: os pés em eqüinismo, as luxações e sub-luxações dos quadris, as escolioses e lordoses da coluna vertebral, e outras deformidades decorrentes principalmente de quadros espásticos, onde a contratura dos músculos leva alterações de tendões e ligamentos dos membros inferiores e superiores de crianças com Paralisia Cerebral. Todas estas deformidades podem e devem ser acompanhadas e mantidas sob orientação contínua de um ortopedista, este cuidado pode evitar e até adiar a necessidade de tratamentos mais invasivos ou dispendiosos. Neste sentido uma boa orientação aos pais e familiares é parte do processo de acompanhamento da criança, principalmente quanto às suas expectativas e frustrações acerca das capacidades da mesma.
2.2.2 Tratamento odontológico especializado
Devido a problemas decorrentes de seu quadro, como a sialorréia (a baba incessante, por descontrole de musculatura oro-faríngea) há uma grande incidência de cáries, doença periodontal e má oclusão, que podem e devem ser prevenidas com um precoce atendimento a todas as crianças com PC, principalmente com a participação ativa dos pais ou parentes no processo de introdução de cuidados de higiene bucal e do tipo de alimentação, associados ao tratamento ambulatorial destes Pacientes Especiais.
A melhor opção para as pessoas com Paralisias Cerebrais, quanto a um tratamento odontológico, é o desenvolvimento de um trabalho de Odontologia Preventiva, procurando-se orientar e conscientizar as famílias da necessidade de atendimento nesta área o mais cedo possível.
2.2.3 Estimulação precoce
A estimulação, também chamada de intervenção, precoce deve ser obrigatória para os centros de Neonatologia, já que muitos dos problemas futuros de crianças com problemas neonatais, em especial as diagnosticadas com Paralisias Cerebrais, podem ser prevenidos com a rápida e eficiente intervenção de um ou mais profissionais, já no espaço de uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) NEONATAL, por exemplo na capacidade de deglutição ou sucção de um bebê, prevenindo prováveis disfunções fonoarticulatórias posteriores e facilitando o aleitamento materno, e sua função psicoemocional e imunológica comprovadas.
2.2.4 Tratamento oftalmológico precoce
As crianças com Paralisia Cerebral apresentam um grande número de alterações oculares, pois grande parte delas tem algum grau de hipermetropia, miopia ou astigmatismo, ou seja erros de refração, e mais da metade delas necessitará de uma correção óptica (óculos) ou mesmo de recursos outros, como os utilizados para a visão subnormal (baixa-visão), caso tenham outras complicações oculares associadas (por exemplo, fibroplasia retrolenticular).
Uma das mais freqüentes alterações oculares que acometem as crianças com PC são os Estrabismos (desvio ocular), que recebe o nome de discinético, pois pode variar de uma esotropia (estrabismo convergente) até uma exotropia (estrabismo divergente), sendo às vezes acentuados por outros distúrbios como os nistagmos (tremor ocular). Estas alterações podem e devem ser precocemente atendidas e receberem atenção e cuidados oftalmológicos, pois quanto mais cedo se intervém maior é possibilidade de correção. Segundo orientação de oftalmologistas as crianças com PC devem ser submetidas a este tipo de exame aos 3, 5 e 7 anos de idade, mesmo que não apresentem nenhuma alteração ocular ou diagnóstico prévio de problemas visuais.
2.2.5 Intervenção com educação física especializada
As crianças ou pessoas com Paralisia Cerebral podem se beneficiar de atividades lúdicas, recreativas, terapêuticas ou reabilitadoras orientadas por profissionais de Educação Física, principalmente com a utilização de Hidroterapia e Natação, já que a maior parte de seus déficits são de origem neuromotora, e já se comprovaram os efeitos benéficos da ÁGUA na recuperação de funções de nosso corpo.
Há ainda uma melhoria para estas crianças no campo da autonomia e da auto-estima, já que no meio de uma piscina muitos podem se ‘mover’ com mais facilidade do que fora dela, além da sensação de prazer e realização que estas práticas orientadas podem proporcionar.
2.2.6 Utilização de órteses e próteses
As órteses (dispositivos com a finalidade de manter uma parte específica de nosso corpo na postura mais correta, em uma posição de relaxamento, realinhamento ou controle de atividade) são de grande utilidade para as crianças com paralisias cerebrais, pois podem ajudar a prevenir ou tratar de posturas viciosas ou deformantes que devem ser corrigidas precocemente.
As de posicionamento (como por exemplo as ‘calhas’ para membros inferiores), utilizadas durante a noite, são as mais indicadas para crianças com quadros espásticos ou mistos, mas sempre devem ser confeccionadas em Oficinas especializadas, e obedecendo o princípio de serem únicas, individualizadas e sob medida precisa para cada criança em especial.
As próteses (dispositivos que facilitem ou ampliem a capacidade de deambulação, manipulação ou atividades da vida diária) são construídas dentro do mesmo princípio, podendo auxiliar no processo de reabilitação de crianças com paralisias cerebrais, mas devem ser indicadas por especialistas da área, e estarem adequadas ao tipo de déficit apresentado pela criança.
2.3 Tratamentos inovadores e pesquisas
2.3.1 Toxina botulímica
Após vários estudos e experiências controladas cientificamente, encontrou-se a utilização terapêutica desta toxina, transformando-a em um potencial e efetivo agente terapêutico para o tratamento de diversas síndromes neurológicas, inclusive as contrações musculares involuntárias, tão comuns aos portadores de Paralisias Cerebrais.
A terapêutica deve ser instituída por especialistas (neurologistas, fisiatras, ortopedistas, etc), por via intramuscular (injeções), em diluições salinas, sendo que a dose a ser injetada varia de caso a caso, dependendo da intensidade da contração muscular involuntária, da idade e da musculatura afetada do paciente. A indicação mais freqüente, em casos de paralisias cerebrais, são os músculos das extremidades inferiores (pernas, etc), que, quase sempre, interferem na marcha e na postura. O efeito das injeções deve ser monitorado por exames clínicos e por análise da marcha, ou dos ganhos e/ou melhoria da capacidade de relaxamento muscular adquirida após este tratamento.
No Brasil, já contamos com sua utilização para tratamentos aplicados a diversos quadros, sendo que recentemente foi legislada a possibilidade de pagamento, através das Secretarias de Saúde, oriundo do Ministério da Saúde, para os pacientes que se dirigirem às Secretarias de Saúde mais próximas de sua residência, munidos de receita médica prescrevendo o produto, e um breve relatório escrito pelo especialista que acompanha o caso, descrevendo o distúrbio do movimento ou enfermidade, tempo de duração entre diagnóstico e início de tratamento e relacionando outros medicamentos que o paciente esteja tomando.
2.3.2 Baclofen
Muitas das pessoas com Paralisias Cerebrais apresentam espasticidade e tem alterações e flutuações do tônus muscular, sendo portanto de interesse dos pesquisadores a descoberta de meios de tratar, controlar ou aliviar os sintomas decorrentes destas situações.
O Baclofen é uma substância que vem sendo empregada para o controle da espasticidade, principalmente por seus efeitos de relaxamento muscular e ação antiespasmódica. Porém provoca efeitos como: sedação, fraqueza, fadiga, aparecimento de alucinações e confusão mental, além de dificuldades com o equilíbrio e a marcha. Em doses elevadas foram relatados casos de distúrbios respiratórios e de alterações renais e cardiológicas.
É um procedimento de custo elevado por ser necessária uma intervenção cirúrgica, e ainda pouco acessível em nossa realidade sócio-econômica, porém com indicações precisas para as pessoas com graves comprometimentos pela espasticidade, pela sua resultante a longo prazo (por exemplo um maior tempo de duração dos benefícios em relação à Toxina Botulínica).
2.3.3 Equoterapia
A equoterapia (hipoterapia) é um tratamento com finalidades cinesioterápicas através do uso de cavalos, sob orientação e acompanhamento de profissionais da área de reabilitação, em processo de interdisciplinaridade com profissionais da equitação, saúde e educação. O cavalo é uma ajuda inovadora para que um ser humano, em interação com o meio ambiente, possa adquirir mais equilíbrio corporal e emocional.
Sua principal resposta é a melhora da postura e do tônus muscular do usuário deste tratamento, porém há uma melhora global em termos de reabilitação, tornando a equoterapia um apoio indispensável para os quadros deficitários. Há ainda melhoras na coordenação temporo-espacial, consciência de esquema corporal e lateralidade, com reeducação de posturas e inibição de reflexos, com conseqüente relaxamento, o que pode ser muito útil para os casos de espasticidade e outras alterações de tônus muscular. Há sempre que considerar uma melhora da autonomia, da autoconfiança e da auto-estima de pessoas submetidas à equoterapia.
3 FAMÍLIA E SOCIEDADE
Os pais das crianças com paralisia cerebral vivem um enorme problema no seu dia-a-dia, sentido uma profunda angústia na busca de uma cura impossível, frequentemente acompanhada por sentimentos de dúvida e ansiedade, marcados pela culpa por algo que poderia ter sido feito para evitar a lesão cerebral irreversível e pelo inevitável desapontamento pela lentidão dos progressos de reabilitação e as dificuldades de integração social.
Para ajudar o desenvolvimento de um filho com paralisia cerebral aguarda-os uma tarefa exigente. Desde logo, os problemas são múltiplos: a criança é incapaz de segurar a cabeça, de se manter sentada, de caminhar ou, então, move-se de maneira descontrolada e insegura. O fisioterapeuta, ao longo de várias sessões de tratamento, ajudará os pais a melhor compreender os problemas da criança e a lidar com ela de forma mais adequada. Movimentar a criança deverá ser feito vagarosamente, dando-lhe oportunidade de se ajustar às mudanças de posição.
O bebê poderá ter dificuldades em chamar a atenção do adulto. Caberá aos pais descobrir a melhor forma de integração, embora os técnicos os possam ajudar na descoberta do brincar, sorrir, falar, olhar/comunicar. Seguir-se-á toda uma fase de experiências sensoriais, através do brincar, por vezes com recurso a brinquedos adaptados a necessidades específicas.
A avaliação contínua ajudará a definir as necessidades específicas e as capacidades de cada criança, em cada momento, encaminhando-a para as várias estruturas de apoio - escola regular com ou sem apoio, centros e escolas de ensino especializado.
Sempre que possível, a criança deficiente deverá freqüentar o ensino regular, embora, por vezes, possa ter necessidade de freqüentar, por períodos maiores ou menores, centros mais especializados, onde equipas transdisciplinares, intervindo junto da criança e da família, garantem um melhor desenvolvimento e a continuidade de cuidados específicos de que necessita, de maneira a tornar possível uma maior autonomia e uma integração mais completa na escola e na sociedade.
Todas as crianças necessitam de contactos sociais para a descoberta da sua própria valorização e aceitação individual. É nesse sentido que os pais deverão levar os seus filhos com paralisia cerebral ao mercado, à feira, à loja, ao jardim, a casa dos amigos, à praia e ao campo. Visitas que devem ser acompanhadas com conversas sobre as
novas experiências e complementadas com a participação em atividade de tempos livres e na convivência com a natureza.
A criança deficiente deverá ser tratada como qualquer outro membro da família, evitando a super-proteção. Aos amigos e vizinhos deverá ser dita a verdade sobre a criança, o que certamente vai criar um círculo de pessoas dispostas a ajudar. Aliás, os pais deverão pedir e aceitar essas ajudas, repartindo os seus problemas.
Os pais deverão ainda tentar que outras crianças brinquem com ela, explicando-lhes que aprecia a brincadeira, apesar de não poder mover-se como os outros. A integração na sociedade implica que a criança deve aprender o que deve e não deve fazer, mas a criança não deve ser criticada continuamente e estimulada para as atitudes corretas.
A criança com paralisia cerebral tem o direito de crescer e ser ela própria. A ser tão independente quanto possível. É, sem dúvida, um enorme esforço que se exige aos pais, mas cada etapa de progresso, por pequena que seja, permite manter viva a esperança de haja um novo passo em frente.
CONCLUSÃO
Apesar de não haver cura para a paralisia cerebral, muitas das crianças atingidas poderão ter uma vida quase normal: estudar, trabalhar, praticar esportes. O apoio familiar e social pode ser decisivo. Para que estes seres com características e necessidades tão especiais aprendam a conviver com a própria condição, poderão contar com a ajuda de vários profissionais. Entre estes, estão os fisioterapeutas, que deverão enxergar além da aparência “boba”, deverão ver o ser humano que há por dentro.
O fisioterapeuta poderá optar por diversas formas de abordagens no tratamento do paciente portador de Paralisia Cerebral, mas qualquer que seja a escolhida ele precisa ter uma avaliação crítica dos seus resultados muito intensa. Para conseguir este ambiente o profissional requer um profundo conhecimento do método escolhido e nele ter experiência. Não poderá jamais esquecer de acreditar no potencial da criança, colocando as metas um nível acima do que ele já é capaz de atingir no momento.
Deve auxiliar os pais a descobrir os aspectos positivos dos seus filhos e também a necessidade de sua participação no tratamento para que haja bons resultados. Muitas dúvidas poderão ser questionadas, mas na maior parte delas, as respostas virão com mais facilidade no decorrer do tratamento, uma vez que "cada criança é uma criança", existe a capacidade de resposta do cérebro e a capacidade de adaptação exclusiva de cada paciente.
Felizmente vivemos em tempos de modernização. Crianças que eram consideradas aberrações antigamente, levam uma fica normal hoje em dia. Esperamos um futuro onde não existam mais essas “necessidades especiais”, onde todos sejamos iguais e “normais”.
BIBLIOGRAFIA
ARAUJO, Eliane G. de, JAINES, L. T. Vivendo o desafio: a libertação das deficiências físicas. 2.ed. Ilus. José Raul Soares Winter. São Paulo, Loyola, 1980.
BOBATH, K, A deficiência motora em pacientes com Paralisia Cerebral, editora Manole, S. Paulo, 1989.
DONATO, Caio Augusto. Desafiando a Síndrome de Down. São Paulo : EDISPLAN, 1998.
UNPRED, Darcy Ann, Fisioterapia Neurológica, 1ª Edição, S. Paulo, Ed. Manole, 1994.
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