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domingo, 25 de abril de 2010

Projeto Dificuldade de Aprendizagem

                                                                                         Projeto de Simone Helen Drumond de Carvalho

1. DELIMITAÇÃO DO TEMA


As dificuldades no processo de ensino e aprendizagem dos alunos do 4º Ano da Escola Estadual do Ensino Fundamental Dalva Costa do Nascimento


2. JUSTIFICATIVA

No cotidiano das salas de aula é possível perceber nos alunos certa dificuldade na aprendizagem. Perante tal situação, este projeto é importante para os membros do grupo que lidam diretamente com está problemática, trazendo conhecimentos novos que possam ser utilizados na resolução dessas dificuldades, no contexto da reflexão sobre o processo de ensino aprendizagem, atento as características do aluno quanto ao perfil do professor, já que ambos são peças-chave para compreender o contexto da aprendizagem escolar.

Dificuldades de aprendizagem (DA) é um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de desordens, manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita e do raciocínio.

Mas a aprendizagem não se restringe apenas as dependências escolares, os fatores exógenos são de fundamental importância neste contexto educacional, pois diz respeito à natureza, à direção e ao ritmo do desenvolvimento. É neste sentido que a família é determinante no processo de ensino-aprendizagem, já que é a primeira fonte de relações sociais do individuo e neste seio é possível se estabelecer condições para que haja possíveis dificuldades de aprendizagem.

A família e a escola têm papéis formadores, mas cada um com suas responsabilidades e com papéis bem definidos, ambos ensinam e educam. Não é mais cabível e nem aceitável no mundo de hoje, que se tomem atitudes condenáveis em relação aos alunos com dificuldades de aprendizagem, tanto na escola quanto em casa.

A educação é fundamental no desenvolvimento das habilidades e do caráter dos alunos, a influência da família, no entanto, é básica e fundamental no processo educativo do imaturo e nenhuma outra instituição está em condições de substituí-la. A educação para ser autêntica, tem de respeitar a individualização, à apreensão da essência de cada educando, em buscas das suas fraquezas e temores, das suas fortalezas e aspirações. O processo educativo deve conduzir a responsabilidade, a liberdade, a crítica e a participação.

Portanto, em um primeiro momento este projeto visa detectar quais são estas dificuldades presentes nos alunos.

O processo de ensino aprendizagem não pode ser tratado como algo isolado e único no espaço da sala de aula. Faz-se necessário que o trabalho educacional transcenda os muros da escola como práticas educativas que enlace o contexto social do aprendiz, proporcionando-lhe condições que possibilite o desenvolvimento da capacidade de aprender sempre.

Mas a este respeito que se faz um questionamento em torno da família: "Qual a importância da família no contexto da aprendizagem?

Sabe-se que qualquer aprendizado requer uma boa comunicação entre os participantes deste processo. O bom gerenciamento das formas de comunicar-se é uma ação muito complexa e Moram (1998, p. 38) “explica o r que o campo onde se decide realmente a comunicação é o pessoal, o intrapessoal, que interfere profundamente nas outras formas de comunicação [...]. A comunicação mais difícil é a intrapessoal: conseguir expressar as múltiplas vozes que se manifestam em nós, coordená-las, integrá-las e orientá-las para uma vivência cada vez mais enriquecedora”.

E é neste sentido que este projeto surge também para enfocar a árdua missão de coordenar as "vozes internas" que canalizam a comunicação para o aprendizado como uma prática docente e desta maneira, propiciar um desenvolvimento crescente do alunado, tendo em vista que quanto mais pessoas conseguirem mudar, evoluir, tornarem-se mais críticas e flexíveis frente às mudanças, mais facilmente a sociedade evoluirá, pois são em cada um dos indivíduos que se definem as mudanças mais radicais que afetarão toda a sociedade.

E estes são os "mistérios" que este estudo visa desvendar: identificar dificuldades de aprendizagem, verificar as práticas docentes, bem como atenuar a relação da família neste contexto educacional.


3. PROBLEMA

Quais as dificuldades de aprendizagem enfrentadas pelos alunos do 4º ano das séries iniciais da Escola Estadual do Ensino Fundamental Dalva Costa do Nascimento?


4. HIPÓTESE

As diferentes formas de compreensão sobre os conteúdos ministrados em sala de aula implicam nas dificuldades de aprendizagem entre os alunos do 4° ano.

A desmotivação para o aprendizado é um fator que influencia nas dificuldades de aprendizagem.

Condições familiares econômicas, culturais e psico-emocionais interferem no cotidiano escolar implicando nas dificuldades de aprendizagem do aluno.


5. OBJETIVOS

5.1 - Objetivo Geral:

Analisar as dificuldades que os alunos do 4º ano das séries iniciais da Escola Estadual Ensino Fundamental Dalva Costa do Nascimento enfrentam.

5.2 - Objetivos Específicos:

Identificar quais as dificuldades de aprendizagens os alunos do 4ª ano do ensino fundamental enfretam nesta referida escola.

Verificar a freqüência da participação dos pais no processo de ensino aprendizagem dos alunos;

Propor novas metodologias de ensino que contribua para o progresso da aprendizagem.

6. METODOLOGIA

As escolhas dos aspectos metodológicos de um trabalho de pesquisa são de suma importância, pois há inúmeras metodologias de trabalho e a melhor adequação dos meios indicará a eficácia da pesquisa.

Os objetivos deste trabalho apontam para um desenvolvimento de estudo de campo para obter dados e mediar situações.

Como se pretende analisar as dificuldades que os alunos do 4º ano do ensino fundamental da Escola Estadual Dalva Costa do Nascimento enfrentam, tal pesquisa terá caráter qualitativo e quantitativo, visto que procurará quantificar opiniões na forma de coleta de informações utilizando técnicas estatísticas na pesquisa, além de analisar as diferenças e singularidades das variáveis apontadas pela metodologia adotada, de forma a entender os processos dinâmicos adotados pelos sujeitos da pesquisa.

Este estudo também visa propor novas metodologias de ensino que contribua para o aprimoramento da aprendizagem, isso acaba por se caracterizar em uma modalidade de pesquisa e ação que podem e devem caminhar juntas quando se pretende a transformação da prática. No entanto, a direção, o sentido e a intencionalidade dessa transformação serão o eixo da caracterização da abordagem da pesquisa- ação.

Para tanto o estudo será desenvolvido na Escola Estadual de Ensino Fundamental Dalva Costa do Nascimento, localizado na Zona Centro-Sul de Manaus. Os Estudantes do 4º ano da referida escola serão o público alvo, como a escola dispõe de uma turma com 35 alunos, todos serão analisados conforme o instrumento de pesquisa, tendo em vista que todos vivenciam as questões norteadoras desta análise no seu cotidiano.

A Coleta de dados será realizada a partir de algumas etapas de trabalho. Essas etapas poderão ser concomitantes ou distintas no que diz respeito ao tempo destinado a cada uma delas.



Etapa 1: A priori será desenvolvido levantamento bibliográfico para verificar os autores que fundamentaram a pesquisa.



Etapa 2: Uma visita técnica para as observações primarias, desta forma dar-se-á início ao desenvolvimento do trabalho escrito.



Etapa 3: Após as visitas técnicas realizadas será adotada a atividade de aplicação do instrumento de pesquisa. Para essa atividade deverá ser construído um roteiro (questionário) tendo como referência as observações feitas previamente in lócu.



Etapa 4: O material coletado por meio dos questionários será apresentado na forma de gráficos devidamente interpretado no conjunto com os demais materiais obtidos. As análises dos dados terão como suporte teórico os autores supracitados, além do material coletado.



Etapa 5: Será desenvolvidas, observações, por meio do caderno de campo da didática adotada pelo docente referente ao ensino dos conteúdos para fins de análise.



Etapa 6: Por meio de explanações relacionadas ao contexto, iremos sujerir a necessidade de mediar saberes para que os envolvidos possam compreender que é necessário orientar o aluno, a família e o professor, para que juntos, possam buscar orientações para lidar com os alunos/filhos, que apresentam dificuldades e/ou que saem do padrão, buscando a intervenção de um profissional especializado.



Etapa 7: Trabalhar com palestras e dicas de acompanhamento escolar com os pais e professores:

1. Estabelecer uma relação de confiança e colaboração com a escola;

2. Escute mais seus filhos e não frise seus defeitos;

3. Informe aos professores sobre os progressos feitos em casa em áreas de interesse mútuo;

4. Estabelecer horários para estudar e realizar as tarefas de casa;

5. Sirva de exemplo, mostre seu interesse e entusiasmo pelos estudos;

6. Desenvolver estratégias de modelação, por exemplo, existe um problema para ser solucionado, pense em voz alta;

7. Aprenda com eles ao invés de só querer ensinar;

8. Valorize sempre as boas ações que o seu filho faz;

9. Disponibilizar materiais para auxiliar na aprendizagem;

10. É preciso conversar, informar e discutir com o seu filho sobre quaisquer observações e comentários emitidos sobre ele.


Cada pessoa é única. Uma vida é uma história de vida. É preciso perceber o aluno que se tem como ele aprende. Se ele construiu uma coisa, não pode destruí-la. O educador ajuda a promover mudanças, trabalhando com os equilíbrios/desequilíbrios e resgatando o desejo de aprender.


7. REFERENCIAL TEORICO

O tema deste projeto um problema de atualidade mundial. O nosso país não fica isolado, em particular a nossa província. Há vários anos apresenta-se uma preocupação constante por incorporar no sistema de ensino e a todos os níveis, novos métodos, com objetivo de desenvolver o próprio sistema.

Como educadores precisamos criar as bases ou ferramentas necessárias para melhor compreensão dos resultados emergentes no estudo de campo, desenvolvido durante a pesquisa. Levando em conta as necessidades da própria investigação, considerou-se necessário organizar esta parte de análise teórica; começaremos por falar da origem e evolução da linguagem, objetivos gerais do ensino da leitura, objetivas gerais do ensino da escrita, disgrafia, importância da leitura e escrita, definições e conceitos, influência da Língua Materna, e Etiologia das dificuldades de aprendizagem.



1.1. Origem e evolução da linguagem.

A origem da evolução da linguagem está relacionada com a própria origem e evolução do homem; as primeiras formas de língua foram associadas à comunidade primitiva, os homens ao comunicar por meio da emissão de sons, tentavam imitar os animais. A linguagem começou a evoluir a partir do momento em que o homem deu os primeiros passos no desenho como uma representação da língua, na medida em que desenhava para comunicar com outro, o que se comprova em cavernas existentes em diferentes partes do mundo.

Mais tarde com o próprio desenvolvimento da comunidade primitiva e a influência decisiva do trabalho, apareceram línguas diferentes, de acordo com a região e o grau de progresso económico da comunidade.

Até aos anos 60, a concepção de língua era considerada como assunto de conhecimento, como um grupo fechado de conteúdos que era necessário analisar, memorizar, aprender dando importância fundamental a gramática (fonéticas, morfologia, sintaxe).

O importante é insentivar as pessoas a usar a língua, não como um sistema teórico, más com um dos meios mais importantes de comunicação.

O processo de evolução da língua tem um papel muito importante, na Língua Materna.

A Língua Materna é uma necessidade biológica, psicológica e social que define o ser humano, o ajuda a fazer parte de uma comunidade e contribui para construir sua identidade. É então a língua que é usada no seio familiar, a primeira a ser memorizada. Também é usada na vida diária: trabalhar, estudar, expressar os sentimentos necessários.



1.2. Objetivos gerais do ensino da leitura

No contexto educativo a leitura não pode limitar-se a desenvolver as técnicas básicas e destrezas interpretativas de uns signos escritos, ainda que todo processo leitor descanse nela; não pode limitar-se a desenvolver a capacidade para agrupar palavras em unidades de pensamento, ainda que tal capacidade dependa da fluidez e da compreensão; não pode limitar-se a desenvolver aptidão de seguir instruções escritas e reparar em detalhes, ainda que tal aptidão, permita ao leitor utilizar intencionalmente o material impresso a qual está submetido.

Além destas aptidões, capacidades e destrezas, o ensino da leitura deve desenvolver a atitude que estimule o leitor a buscar informações e referências, deve desenvolver a independência do leitor, fomentando a confiança em seus próprios recursos, capacitando-o para iniciar por si próprio, atividades leitoras, e facilitando-lhe a adaptação ao tipo de leitura para diversos fins.

Deve desenvolver aptidão para estabelecer relações entre o lido e os problemas que pretende resolver, deve desenvolver a capacidade de síntese do indivíduo e a aptidão para tirar conclusões do lido.

Ao analisarmos os objetivos do ensino da leitura, não podemos esquecer o problema da natureza do progresso da leitura. O crescimento da leitura é um processo evolutivo e contínuo em dupla direção. Em primeiro lugar, o aluno aumenta progressivamente sua capacidade para ler o material cada vez mais específico em conteúdo o que exige um incremento de vocabulário especial de cada matéria, uma maior capacidade para adaptar as técnicas da leitura, as exigências do texto e a compreensão de matérias cada vez mais referenciados.

As características de um bom leitor começam a desenvolver-se desde as primeiras experiências de leitura no aluno.

O conteúdo primordial do ensino da leitura é ajudar a aluno a chegar a ser tão bom leitor tanto quanto possível. Para isso é imprescindível que o educador em todos os níveis escolares dirija a aprendizagem, através de metas concretas e específicas, que constituem o objetivo real do ensino da leitura.



1.3. Objetivos gerais sobre o ensino da escrita

A escrita é um instrumento de grande capital para o registo e comunicação de idéias, considerada fundamentalmente uma destreza de tipo motor que se desenvolve gradualmente à medida que o aluno tenha progresso na sua vida escolar. Tradicionalmente a escrita era concebida como uma arte, como caligrafia.

O seu ensino deve ser em conjunto com os aspectos da linguagem. Com a leitura, o aluno aprende a reconhecer palavras que mais tarde há de reproduzir. Começa escrevendo palavras soltas para continuar depois com frases numa intenção de comunicar suas idéias. Esta atividade requer o uso correto dos sinais de pontuação para separar as unidades de pensamento, elementos básicos da composição. Por outro lado, a aptidão ortográfica depende da qualidade da escrita.

O ensino da escrita deve ser feito de tal modo que sua aprendizagem faculte o aluno a obter êxitos nas suas necessidades gráficas escolares e extra-escolares. Em geral, os alunos sentem desde a mais tenra idade a necessidade da escrita como meio de expressão. A atividade do professor é ajudá-los a desenvolver uma grafia fluida, fácil e legível.

O aluno deve compreender e aceitar, por sua vez, as normas usuais de velocidade, forma e qualidade, desenvolvendo deste modo o sentido de consideração aos demais, e o hábito de sacrificar seus caprichos gráficos individualistas, em áreas de legibilidade. Deve aprender além disso, quais são as causas da escrita.

A correção e o melhoramento da escrita devem ser uma tarefa permanente e sistemática no contexto educativo.



1.3.1. Disgrafía

A linguagem escrita expressiva é a forma de linguagem que mais tempo leva a ser adquirida pelo ser humano. Para escrever é necessário que se observem inúmeras operações cognitivas que resultam da integração dos níveis anteriores da hierarquia da linguagem que abaixo, se expõe segundo vários autores



1º Intenção;

2º Formulação de idéias com recurso a linguagem interna, apelando a rememorização das unidades de significação que se desejam expressar;

3º Chamada das palavras há consciências;

4º Colocação das palavras segundo a ordem gramatical;

5º Codificação com apelo a sequência das unidades linguísticas;

6º Mobilização dos símbolos gráficos equivalentes aos símbolos fonéticos;

7º Chamada dos padrões motores e

8º Praxia manual.

A escrita, ao contrário da leitura é um processo que requer a translação dos sons da fala (unidades auditivas) em equivalentes viso-simbólicas (unidades visuais), isto é, as letras. A escrita depende, da percepção auditiva da discriminação, da memória sequencial auditiva.


Enquanto que a leitura envolve predominantemente uma síntese, a escrita (ou o ditado), completamente e dialeticamente, envolve uma análise.
A escrita quando envolve somente um problema de motricidade fina, de coordenação visuo-motora e de memória, tactilo-quinestésica, compreende a fase de execução ou fase gráfica. Em complemento, quando envolve a formulação e a codificação (fator semântico e sintético) que antecede o ato de escrever, compreende a fase de planificação ou fase ortográfica.


É em função destas fases que se situa a taxonomia das dificuldades de aprendizagem no âmbito da escrita.

A disgrafia, coloca mais um problema de execução do que da planificação.

A disortografia, ao contrário, destaca o problema da planificação, e de formulação. Estas duas variáveis estão significativamente relacionadas com as dificuldades receptivas. Se o aluno não pode ler, logo não pode escrever. Sem input não há output, daí as relações interdependentes entre a dislexia e a disortografia.

A escrita de um aluno com dislexia esclarece-nos sobre os seus problemas. A partir desse processo, podemos compreender como o aluno descodifica e codifica a linguagem escrita. Se a palavra é lida com inversões, substituições e adições, ela é quase sempre escrita da mesma forma. A escrita indica-nos se os típicos do aluno disléxico, são de ordem visual ou de ordem auditiva.

A escrita como sistema visual simbólico converte pensamentos, sentimentos e idéias em símbolos gráficos. Para tal é necessário, que se observem as seguintes perturbações cognitivas:



1- Integração visuo-motora – O aluno fala e lê, mas não consegue executar os padrões motores para escrever. Condição esta denominada por disgrafia que é caracterizada por uma dificuldade na cópia de letras e palavras.



2- Revisualização – O aluno reconhece as palavras quando as vê, podendo tê-las, no entanto não as escreve, nem espontaneamente nem por ditado, evidenciando um défice na memória visual.



3- Com Relação a Sintaxe – O aluno comunica oralmente, pode copiar, revisualizar e escrevê-las por ditado, mas não pode organizar os seus pensamentos e expressá-los segundo regras gramaticais. Esta condição é, portanto a disortografia.



A disgrafia é considerada uma prática que afeta o sistema viso-motor. A disortografia coloca o problema da expressão escrita, afetando a ideação, a formulação e a produção bem como os níveis de abstração. Nestes casos é frequente verificar-se uma discrepância entre o conhecimento adquirido e o conhecimento que pode ser convertido em linguagem escrita.





1.4. Importância da leitura e escrita

A sociedade atual impõe a alfabetização como condição para se ter uma vida de relação ampla, íntegra e autônoma. Não há dúvida de que o nível de desenvolvimento cultural de um país se avalia pelo número de alfabetizados no mesmo.

Ler é uma atividade indispensável na nossa cultura contemporânea. Não somente é necessária para obter resultados satisfatórios nos exames, mas para conhecer, apreciar, valorar tudo o que se escreve. Através da leitura um indivíduo é capaz de adotar uma postura pessoal perante tudo o que foi escrito pela humanidade, é por isso, que a leitura está ligada a todo o processo de assimilação da cultura em que vivemos.

Uma das consequências da revolução científico-técnica da nossa sociedade contemporânea constitui o volume de conhecimentos que necessita o homem de hoje para desenvolver-se com eficiência, em qualquer tipo de atividade social.

A rapidez com que se desenvolve a ciência e a técnica no mundo de hoje, originou não somente uma vertiginosa acumulação de dados e feitos científicos que é necessário conhecer em cada ramo do saber, mas também a sua rápida obsolescência, ou seja, o fato de que seja mais curto o tempo em que caducam. Os especialistas da informação científica afirmam que, devido ao caráter exponencial com que se desenvolve o conhecimento humano, o volume de informação científica se duplicou, e voltou de novo a duplicar-se num intervalo de menor tempo que o anterior, o que mostra o crescimento extraordinário dos conhecimentos científicos no nosso século.

Que consequências originam estas características da nossa época no processo de ensino?

Antes de tudo é necessário preparar o estudante para trabalhar de forma personalizada. Quer dizer, é necessário que o ensino garanta a formação de métodos de análise, de fixação e conservação da informação que permitam a assimilação independente dos conhecimentos científicos acumulados nas formas tradicionalmente utilizadas, livros e revistas científicas, documentos entre outros.

A leitura e a escrita possuem múltiplos significados e valores na nossa cultura. Ler pode significar desde atribuir sentido, numa acepção mais ampla, até a simples descodificação. Podemos falar de leitura de mundo, de imagens, de símbolos, de palavras e livros, podemos relacionar a leitura com ensino formal. O mesmo acontece com a escrita: escreve-se do mundo, deixando registos que podem ser diferentes produções culturais ou escreve-se apenas com as letras? São diferentes concepções, que supõem, para cada grupo, uma valorização distinta. Como o sujeito se coloca sendo leitor e escritor do mundo e no mundo?

O professor poderá desenvolver atividades em salas que mostrem que a leitura e a escrita têm muitos significados e funções e que possibilitam novas descobertas, ampliam as possibilidades de pensar, de conhecer e de registar o mundo. No dia-a-dia da sala de aula, o professor poderá mostrar que ler é uma das chaves para entrar em outros mundos: reais ou imaginários, possíveis ou impossíveis.

Com os alunos do 4º Ano, o educador deve procurar informar-se há quanto tempo eles são leitores, com quem aprenderam a ler, se gostam e o que gostam de ler. As respostas vão revelar o espaço da leitura agradável na vida delas. Conhecendo o que lêem por prazer, o professor vai poder mostrar projetos de leituras com esses textos, propor rodas de prosa para partilharem suas leituras, criar uma biblioteca de leituras mais significativas para trocarem entre si. É importante que este educador garanta um espaço para a leitura e a escrita descomprometida, sem o peso do dever, da obrigatoriedade e da nota. É importante perguntar também se alguém lê e/ou escreve para si mesmo ou para outros. Assim, os educadores vão saber que práticas de leituras e de escritas são partilhadas.

É importante propiciar momentos de leitura coletiva de textos. É importante ler, para os alunos, diferentes tipos de textos literários, notícias de jornal, textos informativos de diversas áreas. Os alunos também podem ler para os outros. A escrita deve vir dentro de seus usos reais: escreve-se alguma coisa para alguém, com uma função específica, como, por exemplo, uma carta um amigo ou um parente, um conto para fazer parte de um livro da classe. O profesor deve valer-se literalmente da criatividade para desenvolver coesamente a habilidade da leitura.

Deste modo, aprender a ler e escrever, é um dos primeiros passos a dar pela criança, logo nos primeiros anos de escolaridade, para que no futuro possa ser um cidadão adulto, verdadeiramente livre e autonomo nas suas decisões. Embora a maioria das crianças aprenda a ler e escrever sem dificuldades, para outras, o processo pode ser lento e apresentar barreiras difíceis de ultrapassar.

O insucesso na aprendizagem da leitura e da escrita, condiciona, freqüentemente, a aprendizagem em outras áreas disciplinares em que o domínio da linguagem escrita, e em especial da leitura é fundamental.

A linguagem escrita, como qualquer outra linguagem, faz parte do cotidiano das pessoas, uma vez que vivemos cercados de textos, que servem para convencer, informar, comunicar e expressar, entre outras coisas, idéias e sentimentos. Mesmo aqueles que não sabem ler e escrever convivem com uma série de textos impressos em diferentes objetos e lugares e participam de inúmeras situações nas quais a leitura e a escrita estão presentes.

O Contato com o mundo letrado faz com que percebam não só as situações de usos e as funções dos textos, como também as suas características linguísticas e visuais (tipos de letras, organização espacial, presença de imagens, números etc.).

Quando um aluno chega a escola defronta-se com o uso de muitas linguagens, por outro lado ele também já construiu uma série de conhecimentos, hipóteses sobre a língua escrita. Sabe, por exemplo, que numa embalagem deve estar escrito, pelo menos, o nome do produto. Se tem contato com livros de histórias, quando vê a professora com um na mão, já imagina que vai ouvir uma história.

A participação em prática de leitura e de escrita, no cotidiano, possibilita e amplia os seus conhecimentos sobre a língua, porém essas práticas são socialmente determinadas. Um mesmo texto além de poder ser lido de muitas maneiras pelo mesmo sujeito, cada um lê da sua forma e do lugar que ocupa socialmente. Questionado sobre a função de um cheque, um indivíduo de classe média respondeu: "É para pagar? quanto é?" Colocando-se no lugar de compradora; já o indivíduo de classe desfavorecida respondeu: É para receber dinheiro. Ambas situações estão corretas sobre a função do cheque, porém cada ponto de vista se refere às práticas sociais que cada um vivencia.

É por isso que não existe nenhum texto fora do suporte que não dependa das formas através das quais ele chega ao seu leitor. Reconstruir o processo pelo qual as obras adquirem sentido exige e considera as relações estabelecidas entre três polos: o texto, o objeto que lhe serve de suporte e a prática que dele se apodera.

Numa sala de aula de qualquer série os alunos apresentam diferenças tanto nas práticas vivenciadas no seu grupo social quanto nas competências individuais de interagir com o texto e o seu suporte. Portanto, para se fazer avaliação diagnóstica sobre a leitura e a escrita dos nossos alunos, capaz de subsidiar um planeamento mais próximo da realidade do grupo e de cada um individualmente devemos ter em conta tanto uma dimensão individual quanto uma dimensão sócio-cultural da leitura e da escrita.

É pela interação verbal que a língua é falada, penetrada e constituída. Toda a enunciação é "determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém", portanto, o trabalho com a língua é um trabalho dialógico entre locutor /autor, ouvinte/ leitor, em que a compreensão é um processo ativo e produtivo.

Essa interlocução é constituinte tanto da própria linguagem, e das línguas em particular, quanto dos sujeitos. A língua está em evolução permanente de construção e seu ensino aprendizagem não pode deixar de considerar esse processo histórico e inacabado. É preciso estar atento ao fato de que essas interações verbais acontecem em diferentes espaços sociais e que, portanto cada contexto em que o fato linguístico ocorre tem suas características próprias. O aluno quando chega à escola já participou de processos interlocutórios de versos, porém ainda de vasta possibilidade pela frente. O trabalho com linguagem na escola deve possibilitar a todos os alunos uma ampliação dos espaços de interlocução.

Fonseca (1999, p.7), “alerta-nos para o fato de que o ensino de uma língua não pode deixar de considerar as duas instâncias em que se realizam as enunciações dos sujeitos: as instâncias públicas e as instâncias privadas do uso da linguagem: não é a linguagem que antes de as crianças irem para escola era privada (restrita ao seu grupo familiar e de amigo) e que se torna pública quando entram na escola. Essas instâncias (públicas da linguagem) implicam diferentes estratégias e implicam também a presença de outras variedades linguísticas, uma vez que as interações não se darão mais somente no interior do mesmo grupo social, mais também com sujeito de outros grupos sociais (autores de textos, por exemplo) e outros grupos sociais construíram também historicamente outras categorias de compreensão da realidade. A aprendizagem desta não se dará sem contradições, concomitantemente à aprendizagem da linguagem utilizada em tais instâncias".

A escola é o espaço de interlocução onde o aluno deverá ter a oportunidade de interagir com uma diversidade de textos orais e escritos que tenham características linguísticas particulares e que possam ser, em muitos aspectos, diferentes dos que fazem parte do seu dia-a-dia.

A aprendizagem da linguagem escrita, embora tenha início fora da escola, encontra nela o lugar de sistematização e ampliação. Entre outras funções, cabe à escola a tarefa básica de ensinar a ler e a escrever aos que nelas ingressam. Mas ler e escrever como interlocução significa a apropriação e produção de uma linguagem em que o sujeito possa estabelecer pontes com outros, dialogando e produzindo sentido.

No entanto, ler e escrever são processos distintos e complementares que exigem diferentes habilidades, competências, ações e que por sua vez, variam de acordo com cada tipo de texto e sua complexidade. E é justamente a possibilidade de ler e produzir diferentes tipos de textos, dos mais simples aos mais complexos, que os tornará leitores e escritores competentes.

Oliveira (1996, p.109) “diferentes linguagens mobilizam diferentes formas de pensar”. E a linguagem escrita exige um alto grau de abstração.

Primeiro, porque é a fala em pensamento e em imagens, necesitando de qualidades musicais, expressivas e de entoação. Ao escrever, o sujeito tem de substituir as palavras por imagens de palavras, ou seja, deve simbolizar a imagem sonora da palavra em signos escritos.

Segundo, porque ela é uma fala sem interlocutor direto, dirigida a uma pessoa ausente ou imaginada.

Terceiro, porque quando a criança começa a aprender a escrever, por volta dos seis aos sete anos, geralmente não sente essa necessidade; os motivos para escrever são mais distantes das suas necessidades imediatas.

Quarto, porque a escrita exige um trabalho consciente em relação às palavras e à sua sequência, implicando uma tradução da fala interior que condensada, abreviada e compacta, passa para fala oral, que é extremamente detalhada. A escrita é ainda mais completa que a fala oral, pois, para ser inteligível, exige a explicação plena da situação da qual o sujeito está tratando.

Por tudo isso, a apropriação da linguagem escrita com suas amplas possibilidades, não é simples.

Ela é um processo gradual que exige um trabalho mais sistematizado, em que as intervenções de alguém mais experiente (professores, pais e os envueltos no proceso educativo do aluno) vão mobilizando o sujeito sobre a própria linguagem e provocando aprendizagem.

O alfabetismo necessário para a pessoa circular, com autonomia no mundo letrado supõe a leitura e a escrita de muitos tipos de texto; não basta apenas ler e escrever um bilhete simples, uma lista de preços ou mesmo nome de um determinado produto.

É preciso que pela leitura o sujeito tenha acesso a diferentes tipos de informações, para ampliar seus conhecimentos e poder aproveitar o lado criativo, expressivo e belo da literatura. É preciso também que ele saiba usar linguagem escrita como mais um espaço de interlocução e mais uma ferramenta de pensamento usufruindo de todas as possibilidades e ações que essa ferramenta possibilita.



1.5. Definição e conceitos

Dificuldade de aprendizagem (DA): é uma designação geral que se refere a um grupo heterogeneo de desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e na utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita, e do raciocínio matemático. Tais desordens, consideradas intrínsecas ao indivíduo e presumindo-se que sejam devidas a uma disfunção do sistema nervoso central, podem ocorrer durante toda a vida.

Dislexia: perturbação e dificuldade na aprendizagem da leitura sem que tal se deva a perturbações intelectuais ou sensoriais (visão).

As manifestações mais comuns são: confusão de letras parecidas na sua forma gráfica (p – g, b – d, u - n) ou som (p – b, f - v); troca de sílabas na palavra (carol – calor, falora - falora) ou ordem dos números. (14-41, 23-32); leitura lenta e difícil, com frequência encontra-se associadas à dislexia perturbações da orientação espacial, da lateralização ou mesmo caracteriais e afetivas.

Esta dificuldade pode ter implicações no percurso escolar e em especial na aquisição de outras competências relativas à linguagem, pelo que, muitas vezes, se generaliza abusivamente a dislexia a outras dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita.

O disléxico tem dificuldades na aprendizagem da leitura mas, em condições normais, apresenta escolaridade regular nas disciplinas cujo desempenho não depende da leitura.

São apontadas diversas causas para a dislexia, desde as disfunções celebrais de origem hereditária, congênita ou adquirida (lesões) iniciação demasiado precoce à leitura, mas também certos métodos globais ou semi-globais. Defendemos o uso restrito deste conceito, apenas nas situações de origem endógena ou então ambiental bastante precoce, sendo as restantes formas denominadas de dislexias secundárias ou mesmo falsas dislexias.

Torna-se importante um diagnóstico diferencial cuidado (para a distinguir de outras perturbações) e em tempo oportuno (nunca antes dos sete anos) e, caso se confirme, o encaminhamento para serviços de apoio especializado.

A Dislexia é a incapacidade parcial do indivíduo ler, compreendendo o que se lê, apesar da inteligência normal, audição ou visão e de serem oriundas de lares adequados, isto é, que não passem privação de ordem doméstica ou cultural. Encontramos disléxico em famílias ricas e pobres.

Enquanto as famílias ricas podem levar o filho a um psicólogo neurologista ou psicopedagogo, um indivíduo de família pobre, estudando em escola pública, tem severa dificuldade de persistir com o transtorno de linguagem na fase adulta. Talvez, por essa razão isto é, por uma questão de classe social, a dislexia não seja uma doença da classe média exatamente porque poderão os pais conseguir diagnosticar a dificuldade e partir para intervenções médicas e psicopedagógicas.

"Dificuldades escolares" é uma expressão relativamente nova que até agora não era utilizada quando se falava acerca daqueles a quem nós contentávamos em chamar os "maus alunos". Ora, esta mudança de vocabulário tem a vantagem de dar uma nova direção à investigação psicopedagógica.

Evidentemente que estas dificuldades não são todas de origem emocional ou afetiva. Há com certeza dificuldades que resultam da maior ou menor aptidão escolar.

Antes de avançar, é necessário diferenciar os conceitos de dificuldades e de incapacidades.

Consideremos definições avançadas por eminentes investigadores de aceitação internacional tais como:

Kincheloe (1997, p.244) “define dificuldade de aprendizagem como: “um atraso, desordem ou imaturidade num ou mais processos: da linguagem falada, da leitura, da ortografia, da caligrafia ou da aritmética; resultantes de uma disfunção cerebral ou distúrbios de comportamentos, e não dependentes de uma deficiência mental, de uma privação cultural ou de um conjunto de fatores pedagógicos”

Fonseca (1999, p.44) define dificuldade de aprendizagem como: "desordens psico-neurológicas da aprendizagem para incluir os déficets na aprendizagem em qualquer idade e que são essencialmente causadas por desvios no sistema nervoso central e que não são devidas ou provocadas por deficiência mental, privação sensorial ou por fatores psicogenéticos".

O conceito de dificuldade como vimos não engloba qualquer perturbação global da inteligência ou da personalidade, ou de eventualmente, qualquer anomalia sensorial (auditiva, visual ou tactilo-quinestésica) ou motora. Há um potencial de aprendizagem íntegro ou intacto.

Os alunos com dificuldade de aprendizagem são alunos intactos, portanto, não são deficientes mentais ou emocionais nem deficientes visuais, auditivos ou motores nem devem ser confundidos com alunos desfavorecidos ou privados culturalmente. Independentemente de terem uma inteligência adequada, uma visão, uma audição e uma motricidade adequada, bem como uma estabilidade emocional adequada, tais alunos não aprendem normalmente. Este aspecto é preponderante e fundamental para compreender e se definir este grupo de alunos. O prefixo (dislexia, disgrafia, disortografia e discalculia) envolve a noção de dificuldade a que pode estar ligada, ou não, uma disfunção cerebral.

Ao contrário o conceito de incapacidade, inclui problemas de gravidade variável, exprimindo uma desorganização funcional de atividade anteriormente bem integrada e utilizada.

As incapacidades de aprendizagem englobam distúrbios provocados por lesões em zonas secundárias do cérebro, responsáveis pelas funções simbólicas e práticas superiores, resultando em incapacidade de distinguir (analisar e sintetizar), diferenciar aferências, ordená-las e conservá-las e /ou controlar, regular e reprecisar interferência, em “feedback” com aferências.

A aprendizagem da leitura começa com a aquisição da linguagem auditiva. A dificuldade de aprendizagem da leitura coloca, assim um problema de desenvolvimento cognitivo.

Dislexia: compreende a dificuldade na leitura, independentemente de instrução convencional, adequada inteligência e oportunidade sócio-cultural. Depende, portanto, fundamentalmente, de dificuldades cognitivas, que são frequentemente, de origem constitucional.

A dislexia é uma “dificuldade na aprendizagem de leitura com proficiência normal independentemente de instrução convencional, de um envolvimento cultural adequado de motivação adequada, de sentido intacto, de inteligência normal e de ausência de déficets neurológicos”.

Fonseca (1999, p 16), define dislexia como uma desordem da linguagem que interfere com aquisição de significações obtidas da linguagem escrita, devido a um défice na simbolização. Pode ser endógena ou exógena, congénita ou adquirida. As limitações na leitura são demonstradas pela discrepância entre a realização esperada e realização atual. Limitações normalmente devidas as disfunções cerebrais manifestadas por perturbações cognitivas, mas que não são atribuídas a deficiências sensoriais, motoras, intelectuais ou emocionais, nem a um ensino inadequado ou a privação de oportunidades.

Segundo o investigador (NETITA 1987, p. 246) “a dislexia constitui uma desordem cognitiva e uma desordem da linguagem. Desordem cognitiva, exatamente porque se centra na problemática da significação da linguagem interior da abstração, da formação dos conceitos e das metáforas”. Evidencia uma perturbação no processo de simbolização, não se operando a significação, que deverá resultar da leitura e põe em jogo um processo cognitivo e integrativo. Descodificar e simultaneamente compreender, são um todo no processo da leitura, trata-se de uma análise pela síntese.

Obter significação compreende uma relação com o pensamento abstrato. Deduzir, inferir, implicar, generalizar, conotar, asociar e categorizar, dão-se imediatamente quando o processo da leitura está adquirido.

A significação resultante da leitura é um processo psicológico que procede a linguagem porque ela nasce das coisas reais e concretas. A significação é anterior à utilização da linguagem falada e está permanentemente implícita no processo da recepção e da expressão da linguagem escrita.

É uma desordem da linguagem, porque impede as relações entre a linguagem auditiva (receptiva e expressiva) e a linguagem visual (receptiva e expressiva). Ler não é aprendizagem de novos sinais. Trata-se apenas de lidar com material já adquirido auditivamente, sobrepondo-se o sinal visual, grafema sobre o sinal anterior (fonema).

Em vários estudos têm sido avançados diferentes tipos de dislexia por vários investigadores, que de uma forma ou de outra em nossa opinião convergem pelas investigações que a seguir descrevemos.



1º Dislexia da linguagem interior – a mais severa das formas da dislexia. O indivíduo percebe os grafemas e ao traduzí-los para os equivalentes auditivos, lendo alto, a função da significação não é atingida.



2º Dislexia auditiva – afeta o processo cognitivo que relaciona os fonemas com grafemas na formação das palavras. Ler e de certa forma ver e ouvir. A visualização pressupõe a “auditorização” dos grafemas, isto é, a capacidade de simbolizar e de codificar a informação. Aqui encontra-se afetado a auditorização dos grafemas por isso as funções de sibalação, a fonologia e a função auditiva são um indicativo muito forte no êxito da leitura. A facilidade em adquirir as características auditivas de uma palavra é um processo básico de informações a que se deve dar, a atenção.



3º Dislexia Visual – valoriza a função de discriminação visual inerente a característica da letra (grafema): tamanho, forma, linhas retas ou curvas, ângulos, orientação vertical ou horizontal. Quando as letras não são reconhecidas como letras então temos uma dislexia visual. Neste caso não é a função de compreensão ou de significação que está em causa, o problema é o da descriminação que afeta a codificação visual dos grafemas, e a formação das palavras, prejudicando a simbolização.



4º Dislexia intermodal – a leitura não envolve somente processos intravisuais ou intratraços, auditivos, por isso deve-se descriminar entre uma dislexia auditiva e uma dislexia visual. A dislexia intermodal surge quando os processos cognitivos-visuais não são transformados nos seus equivalentes auditivos ou vice-versa. São necessárias funções cognitivas intactas: integridade do processo auditivo, do processo visual, integridade dos processos audiovisual e viso-auditivo (processos transudais) e integridade do progresso integrativo.



1.6. Influência da Língua Materna

Um indivíduo nos primeiros meses de vida é capaz de construir um conjunto de informações acerca do mundo externo pois a maior parte dos seus sentidos funciona a partir do nascimento.

Segundo Netita (1987 p.14), o recém-nascido consegue segmentar os sons de qualquer língua nas unidades básicas dessa língua, tornando-se rapidamente apto para todas as línguas, contudo, permanece limitado aos sons da comunidade linguística em que vive. Ao aprender a capacidade de responder a qualquer linguagem, a criança vai ganhando, em troca uma crescente aptidão para diferenciar os sons e as cadeias sonoras da língua que ouve no dia-a-dia, terminando a primeira infância, com a aquisição da linguagem, cerca dos dez anos de idade.

A criança que tem um processo de desenvolvimento normal adquiriu a linguagem de uma forma espontânea e natural, tornando-se desde muito cedo, o principal vetor do processo de comunicação.

A interação entre a criança e os pais possibilita o desenvolvimento de uma primeira linguagem, com bases sócio-afetivas, muito eficazes no ato de comunicação. As repetições maternas, por exemplo, facilitam entender a mensagem. As reformulações são importantes, porque dão à criança, a oportunidade de comparar uma estrutura que já existe no seu repertório linguístico, com outras sintaticamente novas.

Estudos sobre a aquisição da linguagem mostram que o ambiente linguístico da criança, geralmente a experiência de ouvir uma língua falada é suficiente, para levar a criança a falar essa língua. Os pais nem sempre se apercebem do papel fundamental que desempenham como professores da língua; contudo, são eles que proporcionam os modelos adequados à progressiva aquisição da linguagem dos filhos.

Todas as línguas naturais do ser humano apresentam características que dependem da cultura, hábitos e costumes de cada país. Deste modo, a língua materna é considerada um importante fator de entidade nacional e cultural.



1.7. Etiologia das dificuldades de aprendizagem

Deve-se distinguir o aluno com dificuldades de aprendizagem, do aluno que experimenta problemas de aprendizagem por razões de desvantagens culturais, de inadequada aprendizagem, de envolvimento socio-econômico pobre, de inadequada integração pedagógica, ou de deficiência diagnosticada cientificamente.

Muitas concepções são apresentadas neste âmbito, por vezes até com "ferver sectário" impedindo frequentemente a evolução dos conceitos e o apoio à investigação interdisciplinar.

A confusão ideológica dificulta a definição das dificuldades de aprendizagem (D.A), dando origem à popularidade das justificações sociais ou psiquiátricas das D.A, que poderão redundar em simplismo perigoso, em ilusões de progresso, em insuficiências e ineficácia dos serviços educativos, em explicações encantatórias, em compensações afetivas piedosas, etc.

A urgência de processos dialéticos que enfatizem uma perspectiva científica pedagógica e interacionista (aluno – professor, família- escola) surge como necessária à investigação desta pesquisa, afim de que o aproveitamento das conclusões se faça pelos seus méritos científicos, e não pelos seus interesses ideológicos.

Não é estranho que o problema das D.A, encerre uma certa relatividade cultural política de educação de saúde e de bem-estar.

O combate à privação sócio-cultural, à pobreza e à miséria, que está na base de muitas D.A, não se faz por medidas puramente educacionais.

Por essa razão a solução das D.A não se opera só na escola ou na política de educação, o problema naturalmente estende-se aos seguintes campos do desenvolvimento:



Mal Nutrição – o desenvolvimento normal exige condições económicas mínimas para obtenção de alimentos com um mínimo de calorias e proteínas, e para o pagamento de serviço médico-sociais, pois estão em jogo os processos de imaturação das estruturas neuropsicológicas do desenvolvimento cognitivo.


Estimulação Benéfica – a privação de estímulos (informação) – no seio familiar impede aproximação de aptidões multi-sensorias psicomotoras, psicolinguísticas necessárias as aprendizagens escolares. A privação de estímulos, de objetos, de afetos, de oportunidades, tem um grande impacto no comportamento do aluno e no seu desenvolvimento harmonioso.


Reforço – sem condições apropriadas de encorajamento, segurança, confiança de reforço, o aluno não desenvolve comportamentos desejáveis nem iniciativas e estímulos indispensáveis a sua maturação. A permanência de reforços negativos ou neutros têm influências determináveis no desenvolvimento do aluno.



Sub-cultura – o papel dos padrões de linguagem, está implícito na ideologia dominante que é reproduzida pelos métodos e texto de aprendizagem. A ausência da complexidade dos processos semânticos-sintáxicos, reflete-se por este fato, no aproveitamento escolar.



Social – a escola visa um critério de homogeneidade cultural que não é compatível com um sistema social tão diferenciado e hierarquizado. Os mecanismos competitivos alimentados pela escola segregam a partida, um grande número de indivíduo procurando selecioná-los para outros segmentos menos qualificados no mercado do trabalho. Êxito na escola significa êxito na sociedade, prestígio, poder, competência, etc., que em si implica novas situações geradoras de operações cognitivas a que uns não têm acesso.



Antes de iniciar o processo de aprendizagem da linguagem escrita, o aluno deve ser portador de uma diferenciada experiência multi-sensorial, pois nele desenvolve as integridades e as associações viso-motoras, por um lado, e as auditivo-verbais, por outro, associações que se passam no sistema nervoso e que são necessárias às aprendizagens escolares fundamentais. Num desenvolvimento sócio-familiar adequado e qualitativamente estimulado, o aluno envolve aptidões que são imprescindível para a aprendizagem, mas num desenvolvimento sócio-familiar inadequado e frustrante, com pouca estimulação e interação sócio-linguística, é óbvio que as aptidões dos alunos não atingem a maturação exigida para superar as situações – problema da escolaridade.

A etiologia das dificuldades escolares pode ser colocada em dois níveis; endógeno e exógeno. Nos aspectos endógenos, não podemos esquecer os fatores hereditários e a sua influência em termos de desenvolvimento. Nos aspectos exógenos, não podemos deixar de ter em conta a influência das oportunidades e das experiências multi-sensoriais, para além das necessidades de segurança, afeto, interação lúdica e linguística, responsabilidade e independência pessoal.

O fracasso escolar é uma condição de stress emocional. Afeta a criança, afeta a família e afeta a escola. Mais o insucesso escolar é sinónimo do insucesso social. Sem aquisições escolares, o indivíduo fica impedido de participar eficientemente, no progresso da sociedade.

O insucesso escolar não é só uma falha da criança, é muitas vezes a falha do professor. Quer dizer, quando estamos perante uma dislexia ou uma discalculia, é preciso imediatamente, equacionar uma despedagogia.

Não podemos deixar de assinalar a importância de outros fatores, nomeadamente os emocionais e os afetivos.

A relação com a familia durante o período crítico do desenvolvimento da linguagem é de uma inestimável significação. A irregularidade, distorção ou a descontinuidade da relação familia-escola, podem representar outros parâmetros etiológicos de grande relevância, designadamente nas desordens da comunicação e nos problemas emocionais primários.

Lamentavelmente é na escola e por vezes muito tarde que se revela os problemas emocionais secundários. A acumulação de frustrações, de ansiedades, de agressores, de depressões e de insucesso é ativada pelo sistema escolar, originando como consequência uma cadeia de inadaptações.

Daqui a necessidade de apoio ao nível da família, verdadeira escola de sentimento onde a criança adquire a maturidade emocional indispensável para as pré-aptidões das aprendizagens escolares. Amor, segurança, confiança, encorajamento e sucessos são indispensáveis à personalidade da criança, e aqui, a missão do jardim-de-infância e ensino pré-primário, como prevenção às D.A são insubstituíveis.

O aluno que chega à escola traz consigo uma história de vivência e de oportunidades muito complexa, que é preciso estudar e caracterizar. A escola revela as D.A do aluno em vez de adotar uma atitude preventiva e uma prática compensatória.

 
 
 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


FONSECA Victor da 1999; Uma introdução as dificuldades de aprendizagem, Editorial Noticias Lisboa.

FONSECA, Victor 1999; Insucesso escolar, Âncora editora Lisboa – Portugal.

KINCHELOE, J. L. A formação do professor como compromisso político: mapeando o pós-moderno. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

MORAN, José Manuel. Mudanças na Comunicação Pessoal: Gerenciamento Integrado da Comunicação Pessoal e Tecnológica. São Paulo: Paulinas, 1998.

NETITA, Samuel Pfromm1987; Psicologia da aprendizagem e do Ensino. Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

OLIVEIRA, J.H.Barros de; Oliveira M.Barros 1996 Psicologia da Educação Escolar II Professor-Ensino; Livraria Almeida-Coimbra Portugal.




sexta-feira, 23 de abril de 2010

Família e escola

                                                                                        Texto de Simone Helen Drumond de Carvalho

A relação família-escola é, hoje, tema em destaque na discussão sobre o alcance do sucesso dos alunos no processo de ensino-aprendizagem. Freqüentemente, não se ouve dos professores que o apoio da família é essencial para o bom desempenho do aluno. Porém, muitas vezes essa expectativa de ajuda torna-se fator de acusação, atribuindo-se à família a responsabilidade pelo mau desempenho escolar da criança.


Os profissionais da escola acreditam, muitas vezes, que os alunos vão mal porque suas famílias estão desestruturadas ou porque não se interessam pela vida escolar da criança. A ausência dos pais às reuniões pedagógicas é um fato que vem acontecendo muito no contexto escolar atual, o que pode ser um indicativo do pouco acompanhamento da vida escolar das crianças por parte dos pais.

O baixo desempenho dos alunos, os cuidados com a criança em relação à escolaridade e o não atendimento aos pedidos e expectativas da escola foram algumas das questões que motivaram o desenvolvimento desta pesquisa.

No decorrer do processo educacional, depara-se com alguns aspectos que atrasam a vida do aluno na escola. Dentre esses aspectos, optou-se por observar a influência da família no processo ensino-aprendizagem. Assim, nesse estudo, pretende-se analisar a família perante a escola e a necessidade de uma integração, supõe-se que a questão familiar pode ser um dos fatores que influenciam o desenvolvimento escolar de um aluno.

Hoje, mesmo não existindo mais um parâmetro de família como predominava até o início do século passado, acredita-se que mesmo nas famílias compostas por apenas duas pessoas, esse representante da família pode ser um personagem importante na aprendizagem dos educandos.

A escola que, por sua vez, tinha o papel de ensinar o que o mundo do trabalho iria cobrar ao indivíduo no futuro, passa a absorver também a função de educar para a vida no que se referem aos aspectos sociais, morais, espirituais, entre outros.

As conseqüências desse acúmulo de funções são sentidas hoje pela escola, pois ela passou a ser vista como uma instituição que ensina, que critica, passa sermões e faz mil cobranças de organização e socialização que deveriam ser trabalhados em casa; daí gera-se muitos conflitos. Para sanar tais conflitos, é preciso criar uma parceria entre família e escola, para que haja uma distribuição mais justa de responsabilidades na educação da criança.

Assim, cada um fazendo o seu papel, uma não sobrecarrega a outra. Mais do que uma descentralização das funções, essa parceria ajuda pais e escola a falarem a mesma linguagem, situando o indivíduo num mundo organizado em uma estrutura que compõe a sociedade da qual ele também faz parte.

Família é o fundamento básico e universal de todas as sociedades.

                                                                                        Texto de Simone Helen Drumond de Carvalho


A família é o fundamento básico e universal de todas as sociedades, e é a primeira instituição social na qual somos inseridos desde o nascimento. Segundo Lakatos (1990, p.169), “a família é encontrada em todos os agrupamentos humanos, embora variem as estruturas e o funcionamento”.

Com o crescimento da economia mundial, as novas tecnologias, os meios de comunicação de massa, a revolução industrial e a conquista da mulher pelo mercado de trabalho, o conceito de família nuclear tradicional mudou.

De acordo com Aranha (1996, p. 58) , “a família é uma instituição social sujeita a mudança que ocorre de acordo com as diferentes relações sociais vividas pelos homens” e ainda ressalta que: “A partir do capitalismo, a instalação das fábricas separa o local de trabalho do local de moradia, obrigando a mulher que precisa complementar o orçamento doméstico a se ausentar de casa”.

Quando nos referimos ao ambiente familiar, logo vem em nossa mente à família nuclear conjugal, tradicional composta por pai, mãe e filhos. No entanto, esse modelo mudou com o passar do tempo. São poucas as famílias que planejam um ambiente adequado de segurança e auto-aceitação da criança, pois hoje a grande maioria dos pais infelizmente com a necessidade de trabalhar cada vez mais, passa a maior parte do seu tempo fora de casa.

Algumas crianças nascem de pais separados, mães solteiras e o mais triste, pais presos, esquecendo que são eles que definem para a criança um papel determinado pela suas necessidades afetivas. Mas, precisamos levar em conta a complexidade da vida atual, pois antigamente a tarefa de criar filhos pelo menos aparentemente era simplificada pela existência de regras e tradições inquestionáveis, não podemos esquecer que a figura da mãe era muito importante e responsável por quase todas as ações cometidas pelos filhos.

Por causa da necessidade de trabalhar fora para aumentar à renda familiar, a mulher que antes era submissa e tinha como papel apenas de educar os filhos e cuidar da casa, hoje assume um papel igual ao do homem no que diz respeito a sustentar uma casa.

Devido a essas mudanças, agora pai e mãe estão fora de casa, deixando para depois ou quando tiverem tempo os problemas educacionais dos filhos. Sabemos que a família é responsável pela educação formal das crianças, e dela que os mesmos adquirem o conceito de valores que levaram pelo resto de suas vidas.

A família é responsável por transmitir afeto, amor, respeito, valores morais e éticos, religião, enfim é responsável por tudo o que irá ajudar ou atrapalhar essa criança no futuro.

Souza (1970, p. 69) ressalta que é na família que a personalidade da criança se delineia. Portanto, seu desenvolvimento emocional será construído através do reflexo das pessoas que convive com ela, um ambiente acolhedor é o mais indicado para se educar uma criança.

A criança passa os anos mais importantes para a sua formação na família. Giorge (1975, p. 27) ressalta que “é nela que a criança faz a primeira adaptação à vida social, independente do modelo como se apresenta”. Essa adaptação transmitirá para as crianças as primeiras experiências de solidariedade, proibições, rivalidades e é muitas vezes nela que a criança é modelada através de estímulos, educação, limites e aceitação de como ela deve ou não ser.

Muitas vezes os pais projetam a sua vida na vida de seus filhos, mas se omitem ao ouvir isso e dizem que evitam opinar sobre a turma de amigos, os estilos de roupa, do comportamento e principalmente a profissão do filho, que não importa a profissão, mas “que ele seja feliz”, mas, na verdade os pais com toda sua experiência de vida querem trilhar caminhos que supostamente trariam o bem estar e sucesso para eles, e para isso, muitas vezes, de uma forma invasora, invadem sua privacidade, obrigando a mudar tal comportamento e “podando” a sua liberdade. Muitas vezes, o melhor, o adequado e sensato no momento para os pais, não é o melhor, ou mais correto para seu filho.

Outros pais por não terem tido a oportunidade de estudar por morarem em lugares distantes das escolas ou por precisarem trabalhar cedo, não incentivam os filhos a almejar um futuro melhor, futuro esse que só é conquistado através de muito estudo e dedicação de ambas as partes.

A Família Como Pilar da Educação

                                                                                     Texto de Simone Helen Drumond de Carvalho


A participação ativa dos pais é necessária e de grande valor porque desde pequena a criança desenvolve-se inteiramente ao redor deles e são os mesmos, que servirão de apoio a sua criatividade e ao seu comportamento produtivo na escola e na vida em sociedade, quando for adulto, pois a família é e sempre será uma poderosa influência para o desenvolvimento do caráter dos filhos.


ARANHA (1996)

A educação dada pela família fornece o “solo” a partir do qual o homem pode agir até para, em última instância, se rebelar contra os valores recebidos: contra esses valores, mas sempre a partir deles. Portanto a família é o local privilegiado para o desenvolvimento humano. O desenvolvimento da personalidade das crianças não depende só do método disciplinar ou educativo, mas depende também da influência dos pais, da ligação entre ambos (p. 61).

Salvador (1999, p. 87) diz que muitas crianças não têm a oportunidade de vivenciar as atividades domésticas do dia a dia em seu lar, outras não conhecem o trabalho dos pais, só sabem que eles trabalham, mas não o que fazem ou onde. Podemos dizer que esses filhos estão muito distantes do mundo adulto.

Os pais acreditam que existem certos assuntos que não são importantes para o cotidiano da criança. Enganam-se, tudo o que a criança souber a respeito deles será de grande valor para seu desenvolvimento moral, ético e afetivo, e ainda diz que as crianças estão acostumadas em aprender e terem atenção de outras pessoas. Isso acaba confundindo eles, que por sua vez acabaram por não sentir que a família é sua transmissora de valores e segurança. As crianças necessitam de atenção, carinho, todas as coisas boas que só a família pode oferecer, eles são também interlocutores das mensagens transmitidas pelos pais.


De acordo com SARTI (2003):

As relações entre pais e filhos têm o poder de estabelecer vínculos fortes de afetividade. Da afetividade ao modo de falar, agir, ou seja, se há diálogo entre pais (mãe/pai) e entre filhos, se há compreensão, ou conflito, crises emocionais, depressão, drogas, pois a família é o berço da cultura e a base da sociedade futura e ela se torna um espelho para as crianças (p. 48).

Os filhos quando são chamados para participarem de certas atividades junto com os seus responsáveis terão mais chances de aprender a errar e acertar, entendendo que futuramente serão responsáveis pelos seus atos. Pai e mãe constroem juntos, uma ponte que tem como objetivo levar os filhos a novas situações de conhecimento. Sabemos que a família nuclear tradicional composta por pai, mãe e filhos foi perdendo sua estrutura com o passar dos anos e com as mudanças na sociedade.

Salvador (1999, p. 56) ressalta que devido a essas mudanças que o crescimento da população e o desenvolvimento geral dos países trouxeram como conseqüências a perda de certos valores que antigamente a família possuía e preservava, ainda diz que como conseqüência dessas perca de valores, temos de destacar as dificuldades que essa nova estrutura familiar vem sofrendo e especialmente os filhos.

Não estamos generalizando, mas infelizmente muitos problemas de cunho psicológico e de aprendizado foram ocasionados devidos essa falta dos vínculos afetivos entre a família e os filhos. Por ser a primeira instituição social a qual somos inseridos desde o nascimento, a família é responsável pelos conhecimentos prévios de seus filhos. Com o tempo a mesma perdeu a função de ser o modelo.

Essa tendência se tornou freqüente nos dias atuais. As crianças sofrem com o impacto do divórcio que virou algo corriqueiro em nossa sociedade. Algumas já nascem de pais separados, fazendo com que essas crianças venham sofrer com essa falta de vínculos amorosos entre pai e mãe perdendo total equilíbrio emocional.

Não podemos nos esquecer que as relações entre pai, mãe e filhos é a chave para o desenvolvimento da criança no que diz respeito ao seu papel como cidadão na sociedade.

Notamos que crianças provindas de um ambiente familiar adequado estão mais adaptadas ao meio em que vivem, e geralmente não sofrem de problemas educacionais, emocionais e éticos.

Assim como todas as instituições sociais, a família cria certos hábitos entre os membros que dividem o mesmo espaço. Basicamente uma pauta reguladora que tem como objetivo, garantir o bem estar dos componentes desse lar. Através de normas de conduta e de atos, cada um tem um papel diferente a ser exercido dentro desse ambiente. Essas normas fazem com que cada um saiba o seu lugar e até onde pode chegar.

Considerada um sistema, a família carrega em seus ombros à função e o dever de proteger os seus membros, favorecendo a eles o conhecimento a cultura a qual pertencem e ainda podemos perceber que a família é tão importante para a vida do indivíduo nesse artigo, pois ela vem em primeiro lugar, depois a sociedade e logo o Estado.

Pretendemos agora ressaltar algumas das funções que as famílias devem exercer para promover ao indivíduo um bom desenvolvimento social. Resumem-se em poucas linhas os seus deveres. As famílias devem cuidar e proteger as crianças, garantido a eles condições dignas de sobrevivência. Quando essas funções não podem ser cumpridas, entram em cena organizações que tem como objetivo oferecer assistência a essas pessoas carentes, dando o suporte necessário.

A família é a primeira instituição social a qual somos inseridos desde o nascimento, portanto uma de suas funções é a da socialização, promover ao indivíduo relações de sociabilidade com outras pessoas.

A família por sua vez precisa dar o suporte necessário para a evolução acadêmica da criança. É extremamente importante que a família promova ao educando situações de aprendizado e de suporte quando necessário. Salvador (1999) destaca que durante muito tempo os pais eram os mediadores da aprendizagem dos filhos. Continuam sendo, mas agora existe a escola que juntamente com a família formam uma ponte para melhorar o aprendizado.

Outra função é a de oferecer suporte emocional, propiciando a essa criança um ambiente equilibrado de amor, compreensão, afeto, valores. Essa função será um passaporte para o sucesso dessa criança como adulto. Segundo Kaloustian (1988, p. 74), a família é o lugar indispensável para a garantia da sobrevivência e da proteção integral dos filhos e demais membros. Portanto, tem o papel decisivo na educação dos filhos, e é a responsável em transmitir valores humanitários, culturais, morais, sentimento de solidariedade etc.

O indivíduo que tiver a oportunidade e adquirir esses valores em seu seio familiar terá a chance de ser um grande ser humano, com muitas qualidades. Acrescentamos que a família é e sempre será uma influência poderosa para o desenvolvimento do caráter dos indivíduos, caráter esse que é moldado dentro das aprendizagens no ambiente familiar.

A escola entra como complemento para a formação dessa criança. A escola contribuirá para que a familiar desenvolva seu potencial. Trabalhando juntas, ambas terão sucesso e o aluno terá a oportunidade de se tornar um cidadão de bem, podendo exercer melhor o seu papel na sociedade. Com o passar dos anos, certos valores foram perdendo sua importância, os pais agora trabalham muito não tendo tempo para transmitir os conhecimentos prévios de educação para os seus filhos.

A família No Contexto Escolar

                                                                         Texto de Simone Helen Drumond de Carvalho
Segundo Bourdieu (1984, p. 98), a família tem um papel de primeira ordem na trajetória social dos indivíduos, porque juntamente com a escola é responsável pela transmissão cultural; a sua eficiência depende do grau em que a mesma família participa dessa cultura.

Percebemos a importância da instituição familiar no que diz respeito a dar suporte no processo de escolarização dos filhos, controlando, ajudando no âmbito escolar. É uma função de ajuda que se deduz no próprio contexto familiar, mas que alcança também, como suporte os outros contextos de socialização das crianças.

Durante muitos anos, os pais orientaram a aprendizagem dos filhos, eles aprendem durante a infância as atitudes básicas de seu grupo cultural, além das estratégias que lhes permitem realizar essas aprendizagens. À medida que crescem, as necessidades de aprender tornam-se por um lado mais específicas e por outro, mais extensas, a influência dos pais é de suma importância, tanto para compreender e valorizar globalmente as tarefas, as dificuldades e os obstáculos que a criança pode encontrar, como para dispor dos meios para que possam superá-las. Com as mudanças ocorridas na estrutura familiar brasileira, muitos pais estão transferindo para a escola boa parte de sua responsabilidade na criação dos filhos. Não podemos depositar toda a culpa nos pais, pois eles acreditam que estão buscando o melhor para os seus filhos.

Como já foi citado no decorrer da pesquisa, com o passar do tempo à família sofreu certas mudanças em sua estrutura, com a necessidade de trabalhar os pais estão cada vez mais longe de seus filhos. Estes passam mais tempo sozinhos ou com pessoas que não são necessariamente um parente, causando para essa criança uma perda de identidade cultural e afetiva. Isto é, estão sendo criadas por pessoas que não são seus pais.

No ambiente escolar estão cada vez mais distantes e com dificuldades de aprendizagem, e a escola tendo que assumir as funções educativas que historicamente são dos pais. Podemos afirmar que em nossos dias atuais, a escola não pode viver sem a família e a mesma não pode viver sem a escola, esse trabalho em conjunto tem como objetivo o desenvolvimento do bem estar e da aprendizagem do educando.

As funções da família são compartilhadas com a instituição escolar, ambas têm objetivos semelhantes perante a sociedade: formar cidadão críticos, capazes formular suas próprias opiniões. A escola é o lugar do trabalho pedagógico formal, está aberta a diálogos quando necessário. Isto significa que os pais não precisam ir à escola apenas quando é uma reunião ou quando são convocados por causa de alguma reação indevida dos filhos. A mesma também deve ser ativa e participativa para despertar nos pais o interesse pelo desenvolvimento educacional dos filhos, promovendo eventos, reuniões não necessariamente para falar de notas ou comportamentos, mas para promover a interação, trocar informações que podem ser úteis para o dia-a-dia escolar. É importantíssima a conscientização de que a relação entre educação, escola/família/sociedade deve ser uma transformação contínua.

A escola deve buscar construir espaços de reflexão e experiências de vida na comunidade em que está situada para poder assim trabalhar melhor com as famílias de seus alunos, instituindo uma aproximação entre as duas instituições família/escola.

Segundo Ariés (1981, p. 123) a vida no passado, na Idade Média, era vivida em público, as casas eram abertas, as pessoas viviam misturadas. A família cumpria somente uma função, assegurava a transmissão da vida, dos bens e dos nomes, mas não penetrava no que diz respeito à afetividade. O mesmo ainda afirma que o mesmo problema de não se diferenciar um do outro ocorria também nas escolas. Adultos e crianças estudavam na mesma sala de aula.

Não era diferenciado o tratamento da criança para um adulto, assim quando deixava de amamentar, misturava-se com os adultos, usando os trajes parecidos como se fosse um adulto em miniatura, freqüentavam os mesmos eventos e participavam das mesmas conversas.

Assim, como nessa época não existia um sentimento de infância para a família, nas escolas não eram diferentes, a forma de transmitir conhecimentos era arcaica, rígida, uma disciplina severa, dentro de uma abordagem tradicional, a função da escola era só de transmitir conhecimentos disciplinares.

Segundo Ariés (1981, p. 125), a partir do século XIV apresentou-se um modelo de infância baseada na representação do menino Jesus e a Virgem Maria sua mãe, logo após começou a aparecer pinturas da criança com sua família.

A partir do século XIII foi que começou as alterações no que diz respeito à criança no contexto familiar. Agora as casas visam o isolamento dos quartos em especial para a criança que antes dormia junto com pais ou com a criadagem da casa.

O parto e a morte passaram a ter mais importância para os adultos, surgindo então um novo sentimento relacionado com a criança, tendo a intenção de estreitar os laços afetivos e preocupação com a educação, saúde e bem estar dos filhos.

As mesmas preocupações também surgiram no que diz respeito ao pudor, gestos obscenos, imoralidade.

A família passou a se preocupar em corromper a inocência da criança, recomendava-se vigiá-las, evitando promiscuidade entre os menores e as crianças maiores. Podemos notar que há muito tempo a família vem sofrendo algumas mudanças, o mais importante é que as crianças passaram a ser vistas e reconhecidas como um indivíduo que necessita de uma atenção especial, de uma educação primária que será a base para a sua formação.

Savater (2000, p. 48) diz que “o clima na família é aquecido pela afetividade, que proporciona a criança segurança e cuidado. Um lugar sem barreiras que possa distanciar os membros que vivem na mesma casa”.

Quando são passados para a criança exemplos de uma vida familiar saudável, a mesma tende a aceitar e a transmitir sua felicidade. Adultos que foram felizes nunca se esquecem de sua infância, a suspiram pelo resto da vida e tende a transmitir para os filhos.

O carinho, amor, respeito e aprendizagem no seio familiar formam um vínculo humano que nunca nada poderá apagar completamente, assim como nenhuma forma de socialização tem o poder se substituir a família.

A criança necessita de equilíbrio entre as pessoas que vivem com ela, compressão e carinho por parte dos pais e os pais precisam ter uma relação de diálogo como os filhos e comunicação de uma maneira transparente e sincera. É dentro de um cenário bem administrado que a criança constrói seu modelo de vida para seguir, isso se da devido ao contato coletivo com seus familiares.

A aprendizagem no seio familiar é de estrema importância para o bom desenvolvimento do educando e é a responsável pela educação primária. O apoio familiar é crucial no desempenho escolar. Pai que acompanha lição de casa. Mãe que não falta a uma reunião. Pais colaboradores e atentos ao desempenho escolar dos filhos é o sonho de qualquer professor.

Filhos de pais que participam das reuniões propostas pela escola e ajudam os mesmos nas atividades que o professor ministra geralmente é disciplinado, socializado, apresenta um grau muito pequeno de dificuldade de aprendizagem.

Não podemos esquecer que modelo de família nuclear tradicional mudou, mas mesmo que essa criança esteja inserida em um modelo diversificado do tradicional, se são transmitidos para ela os valores necessários para a sua vida, ela terá grandes chances de ser bem resolvida dentro de sua escola e da sociedade em geral.

Infelizmente a escola está passando por dificuldades nessa troca de papéis. Os pais estão mais distantes do que nunca e a escola tendo que realizar um papel que sempre foi e será da família, perdendo o tempo que seria destinado a alfabetização.

Para Savater (2000, p.72) “quando a família socializava, a escola podia ocupar-se de ensinar, agora ela não desempenha plenamente seu papel socializador”. Esse problema ocorre infelizmente porque muitos pais não priorizam a educação dos filhos como forma de melhorar a vida e o futuro.

Muitos desses pais são indivíduos endurecidos pela vida, por culpa de uma sociedade desigual, que não tem como prioridade os menos favorecidos. Portanto, esses pais não valorizam o estudo, acha que o importante é saber ler e fazer conta, adquirir conhecimento de cultura e cidadania é pura bobagem

A escola por sua vez necessita do apoio familiar, pois sabe que a mesma tem condições de melhorar quando a família está presente. O aluno ao perceber que a escola e sua família têm os mesmos objetivos com relação ao seu futuro, com certeza vai melhorar o seu desempenho, e melhorar também o seu relacionamento com ambas as partes. Na escola o indivíduo encontra alicerce para a sua formação, por tanto é importante essa união entre escola e família para a formação do aluno e cidadão social.



CUNHA (1995)



Lidamos com duas instituições de caráter educacional embutidas na missão de conduzir pessoas, levando-as do lugar e do estado em que se encontram no presente para um espaço futuro, supostamente melhor, mais desejável, superior e ainda diz que os pais estão insatisfeitos com a escola, e os professores também afirmam que as famílias deixam a desejar. Os filhos dessas famílias são os mais atingidos por essa antipatia que parece não ter fim. Geralmente esses são os que mais apresentam problemas de aprendizagem, indisciplina e os que menos os pais comparecem nas escolas (p.447).



As duas instituições gravitam em torno do mesmo centro, o aluno, esse por sua vez é o mais prejudicado pela falta de entendimento entre a escola e a família. As escolas não estão preparadas para essa tarefa tão difícil. Quase todos os dias dentro de uma sala de direção escolar ou coordenação, nós nos deparamos com alunos recebendo sermões por terem desacatado o professor ou colega de classe, mesmo entre os pequenos, percebemos uma violência constante.

Nas reuniões vemos a constante indignação do professor, os pais daqueles alunos que precisavam muito de vir, nunca estão presentes. A família precisa valorizar as oportunidades educativas dentro do âmbito do cotidiano de cada uma, valorizando e compreendendo a escola como formadora de pessoas, assim como ela.

Pais enfrentam grandes dificuldades de educar e cuidar dos seus filhos, devido a problemas econômicos sim, mas é uma situação que só poderá ser resolvida quando a sociedade em geral valorizar a educação como a única forma para reverter esse quadro.

Paro (1995, p. 124) ressalta que com o passar do tempo, a sociedade voltou um olhar mais profundo no que diz respeito à educação, a integração da escola com outras instituições socializadoras.

A escola passou a precisar cada vez mais do acompanhamento dos pais no percurso da educação, por tanto não está mais definido de quem é o papel, mas sim de ambas. A família é em primeiro lugar a responsável pela educação primária, todos os conhecimentos, seja de caráter, respeito, ética, parte inicialmente da família. E os pais por sua vez são os mediadores dessa educação, tudo o que a criança aprende no seio da família, seja ela adequada ou não é importante para o crescimento dessa criança.

A família tem o poder de transformar a vida dos filhos de tal maneira, que não há possibilidade de falar em aprendizado sem comentar sobre a importância dos pais no caminhar da vida educacional dos filhos. Infelizmente, diante da complexidade da vida atual, como já citamos em outro capítulo, os pais estão transferindo a responsabilidade de educar os filhos para a escola, sentindo-se incapaz de promover e facilitar a aprendizagem dos mesmos. Mas essa responsabilidade é da família, não há como transferir apenas para a escola a responsabilidade de quem os gerou, ela pode e deve ser compartilhada, mas não transferida.

A escola não é capaz e muito menos possui condições de substituir os pais na formação do indivíduo, e o acompanhamento dos pais na vida escolar é essencial. O aluno quando percebe que seus pais têm interesse em participar do seu cotidiano, ele por sua vez terá um bom desenvolvimento.

O diálogo é extremamente necessário entre ambas as partes, escola, filho e pais. Cada contato que os pais fizerem com a instituição escolar para saber sobre o andamento de seus filhos, seja por telefone ou pessoalmente, para fazer cobranças ou para elogiar, faz com que um vínculo seja criado, causando uma parceria que tem com objetivo o pleno desenvolvimento dos filhos. Essa parceira é algo que as escolas vêem almejando a muito tempo, é muito difícil construir uma escola de qualidade e alunos bem formados sem a contribuição dos pais, uma relação de ajuda na formação do ser humano.



ACÚRCIO (2004):



O papel da instituição familiar, proporcionar a educação informal, conhecida como educação de berço. Cuidar financeiramente enquanto não puder sustentar-se sozinho é um dos papeis da família, oferecer suportes necessários para o bom andamento na escola, principalmente amor, carinho e atenção (p. 24).



Muito dos problemas que alunos enfrentam na escola como indisciplina, má conduta e baixa aprendizagem são causadas por essa falta de compromisso que alguns pais deixam de ter com seus filhos.

Os pais são uns dos operados responsáveis pelo bom andamento dos filhos na escola. Cabe aos mesmos, proporcionar ambientes propícios de aprendizagens, e participar das ações promovidas pela escola não apenas quando forem convocados, mas sempre que acharem necessário.

O diálogo com o professor, diretor, coordenador pode ajudar e muito os pais a resolverem certas dificuldades encontradas pelo caminho.

A escola necessita ser mais democrática, ajudando esses pais a se encontrarem, não rotulando os mesmos com coerções ou apontando como os únicos culpados dos problemas causados pelos filhos.

É dever da escola complementar a educação familiar apenas o necessário, o que for de competência da família exclusivamente dela, deixar para que ela resolva se possível ajudar quando a mesma não tiver condições de resolver sozinha. Outra competência da escola é cobrar da família suporte afetivo, apoio, materiais escolares, hábitos saudáveis de saúde, amor e harmonia.

A escola poderá apenas complementar esses suportes e quando por ventura a família não tiver condições de suprir com alguns desses suportes, a escola deve encaminhá-la para um órgão responsável de assistência social.

Enfim, numa educação centralizada na formação do caráter moral, emocional e educacional dos indivíduos, fica evidente que a família desempenha um papel muito importante. Os pais são os principais responsáveis pela educação dos filhos tanto em casa como na escola.

A Escola Na Visão Tradicional


                                                                                      Texto de Simone Helen Drumond de Carvalho
Dentro de uma abordagem Tradicional, a função da escola era só de transmitir conhecimentos disciplinares, não se importando com o interesse dos educandos, suas opiniões, ou seus problemas do cotidiano. Apenas eram enfatizadas as necessidades de exercícios repetidos, cópias de textos e provas orais, para garantir a memorização dos conteúdos e o retorno dos mesmos nas provas aplicadas.

Segundo Brasil (1998, p. 39). “A escola Tradicional é uma proposta de educação centrada no professor, cuja função se define como a de vigiar e aconselhar os alunos, corrigir e ensinar a matéria”. Na Escola Tradicional, o professor era o dono do saber, a única fonte de conhecimento, pois era visto como autoridade máxima perante a escola e principalmente para os olhos dos pais. Era ele que decidia o método utilizado, como aulas expositivas, conteúdo pronto e o pior, os assuntos de aulas eram determinados por ele e também cabia a ele decidir que tipo de avaliação seria dado.

Aranha (1996, p.158) diz que “o mestre possuía todo o saber e autoridade, dirigia o processo de aprendizagem e se apresentava ainda como um modelo a ser seguido”. O professor controlava todas as ações, exigindo dos alunos obediência, disciplina, bons resultados, tudo com uma grande rigidez. Por outro lado era também era exigido na família e no trabalho, pois era esse o objetivo da escola tradicional, formar os educandos somente para o bom desempenho profissional.

A família por sua vez concordava com tudo o que a escola fazia, pois a mesma não tinha noção de que aquele método de ensino aplicado pelo professor era maçante, desgastante para a criança. Complementando toda essa rigidez, à família cabia passar aos filhos as normas sociais e boas maneiras, também os cuidados e afetividade. A família tinha a intenção de proteger os filhos que eram frágeis dos desvios do mundo, para isso era necessária uma educação formal sólida e bem severa.



Segundo ARANHA (1996):

A escola tradicional foi perdendo força por volta do século XVIII, onde alguns países revelaram o interesse de que o Estado assumisse a educação, tornando a mesma gratuita para que todos tivessem acesso. Sendo então, Escola e Família, duas instituições com papéis bem separados, mais complementares para cultura tradicional. (p.124)



Hoje temos uma mudança tanto na escola como na família, porém a grande maioria das escolas se reciclou para receber a família na escola, mas não se reciclaram na maneira como o conhecimento é passado. Tanto é que existem várias particulares que são tradicionais e até hoje são procuradas por alguns pais que ainda julgam a educação tradicional como único método escolar e disciplinar capaz de ensinar as crianças de hoje.

Embora muitas escolas dissessem usar o método construtivista, ainda há em seu corpo docente professores que nunca pensaram em mudar sua posição e nunca mudarão pelo fato de terem medo de perder o controle sobre o aluno. Para esses professores, a família tem que apoiar a escola e juntas fazerem um trabalho a fim de que os educandos sejam literalmente moldados. Para isso as duas precisam de uma integração, onde o aluno seja o principal sujeito dessa aprendizagem e o professor um mediador formal em conjunto com a família. Não é muito distante o fato de a escola tradicional mudar apenas de fachada e em sua estrutura permanecer a mesma.

A família ainda deposita muita confiança na escola e a vê como transformadora de indivíduos e seus maus comportamentos.

Na escola tradicional os professores eram os únicos que tudo podia e o que eles falavam era tido como lei. Logo com o passar do tempo os pais na medida do possível foram conhecendo seus direitos e participando da estrutura da escola, sejam em reuniões por convocação ou por outros eventos realizados pela escola. Mais tarde, um pouco timidamente os pais começaram a se oferecer para serem voluntários da escola e assim passaram a entender e a construir as relações dentro desta.

Um exemplo dessa aproximação são as APMs (Associação de pais e mestres) que juntas elaboram e executam planos de desenvolvimento para a melhoria do ensino e da escola.

Aos poucos a escola e a família vêm criando parcerias, para melhor atender os alunos, pois o aluno que vê seu pai dentro da escola entende que ali é um lugar bom e aberto para todos.

Outro exemplo de família na escola é o Amigo da Escola, onde os pais dão desde palestras a cursos para toda comunidade e alunos. Diálogo, respeito e cooperação são bases necessárias para construção de uma escola onde a família é parte desde o planejamento até a limpeza da escola. Respeito à diversidade é um fator importante porque a escola não pode ditar modelos, pois já que existem diversas famílias, logo existem culturas variadas.

A relação aluno-professor é outro aspecto de suma importância para a relação que a escola tem com a família, pois com certeza os pais trabalharão melhor com a escola à medida que seu filho sentir-se bem relacionado com seu professor.

A segurança que o aluno sente também é peça chave na hora do aprendizado, pois todas suas incertezas serão relatadas para os familiares que apostarão ou não na escola onde o filho encontra-se matriculado.

O professor tem o dever de dar todo o suporte para o aluno tanto física como psicologicamente e um destes quesitos é deixar com que o aluno sinta-se parte da escola e construtor de sua aprendizagem e com certeza a presença da família é de suma importância nesse processo.

A Visão De Comênio Em Relação à Escola

                                                                                       Texto de Simone Helen Drumond de Carvalho
Quando a escola foi pensada como agente de apoio à família, Comênio (1985, p. 466), autor de Didática Magna pensador do século XVII, dizia que: “[...] do mesmo modo que as pessoas procuram um açougue para o abastecimento de carne, um alfaiate quando precisa de roupas, um marceneiro quando os assuntos são móveis, os pais deveriam procurar escola para a educação de seus filhos.” (500 anos de educação no Brasil).

E essa característica foi feita mais de 300 anos por Comênio (1985, p. 246) quando a divisão social do trabalho sob o capitalismo caminhava bem, entretanto tinha que ter um lugar onde os filhos pudessem ter uma boa educação, pois os pais já não mais se sentiam preparado e sem tempo para isso devido a esse fator a visão do mesmo era de que as famílias necessitavam de um auxilio para a educação dos filhos, então a escola surgiu para complementar o trabalho da família e devido a esse fator o trabalho já era dividido em todos os demais setores da sociedade, por que não teria pessoas que fizesse apenas isso como profissão e que desse modo também poderia atender toda a comunidade.

Nesta época, século XVII, as crianças eram misturadas com os adultos e aprendiam diretamente com a vida e isso era suficiente para transmitir a maioria das técnicas e dos valores relacionado à vida profissional.

A escola moderna em consonância com o seu tempo propõem uma tarefa: se há método para conhecer corretamente, deverá haver método também para ensinar de forma mais rápida e mais segura.

Comênio (1985, p.124) tinha o ideal de transformar a aprendizagem em algo eficaz e atraente mediante a cuidadosa organização de tarefas. Ele próprio se empenhou em elaborar manuais, uma novidade para a época, bem detalhado seguindo o grau das dificuldades de cada aluno.

O ponto de partida da aprendizagem é sempre o conhecimento prévio de cada aluno, indo do simples para o complexo, do concreto para o abstrato. A experiência sensível é fonte de todo o conhecimento, por isso é valorizado a educação dos sentidos.

O ensino deve ser feito pela ação e estar voltado para a ação: Só fazendo aprendemos a fazer. Além disso, é importante que não ensinemos apenas o que tem valor para a escola, mas também aquilo que tenha valor para a vida de cada criança.

A utilidade de que trata Comênio faz do homem um ser moral, por isso as escolas são verdadeiras oficinas da humanidade, iniciação para a vida.

A EDUCAÇÃO COMO RESPONSABILIDADE DO ESTADO


Texto de Simone Helen Drumond de Carvalho


Sabemos que a escola é de responsabilidade do Estado, portanto ela pertence ao povo, comunidade, dos menos favorecidos. Mas ela é de todos? No papel sim, na propaganda política também, mas ela mesma sendo pública é de todos, mas nem sempre atende a todos.

Existe um número muito baixo de escolas para atender todas as crianças que dependem do ensino público. Por serem escolas públicas o ensino deveria ter mais qualidade, e não é isso que vemos.

Enganam-se, o ensino não é gratuito, pagamos por ele todas as vezes que vamos ao supermercado, ao shopping, nos pedágios por via de impostos, sem contar a CPMF que é um imposto recolhido pelo banco.

Baseando nos impostos que são recolhidos e destinados à educação como máscara na propaganda política, a escola pública deveria ser melhor. Algumas por se localizarem em lugares mais conhecidos da capital apresentam uma cara melhor, nada de grades, pichações, bom rendimento dos alunos. Mas a grande maioria sofre com falta de recursos, por isso dependem de eventos realizados pelas mesmas para arrecadar fundos para garantir melhores condições.

Outro problema grave é a falta de valorização dos profissionais da educação. Educadores passam uma boa parte da sua vida se qualificando para exercer bem o seu papel, mas não é reconhecido no que diz respeito a melhores salários. Não são reconhecidos nem pelo governo nem sempre pelos pais de seus alunos que transmitem esse desrespeito ao filho e o mesmo não valoriza o professor nem a escola.

A educação é de responsabilidade do Estado, e o mesmo aparentemente não quer aceitar a tarefa de educar.

O País anda as voltas com a onda de vamos educar, formar cidadãos de bem, dignos, democráticos, que possam exercer o seu direito de votar, é só nisso que eles pensam a impressão que temos e que exercemos nosso direito de cidadão apenas quando votamos.

A mídia enche a mente da população com campanhas de conscientização que ostentam uma única mensagem: educar, o caminho para o primeiro mundo. O problema é que informar o povo sobre a obrigatoriedade da educação não ajuda os indivíduos compreenderem a real necessidade e a devida utilidade dela para o processo de desenvolvimento. Realmente a um descaso do Estado com relação à Educação, podemos notar isso em salas lotadas, professores apenas passando lição na lousa. É um ou outro aprendendo, por que ele não tem condições de dar atenção a todos já que os números são estrondosos.

Segundo Paro (1995, p. 14), em entrevistas recolhidas para o seu livro “por dentro da escola pública”, uma entrevistada observou que o Estado não está interessado na educação, quanto menos a população souber, melhor para eles é mais fácil governar. É o resultado de um voto sem consciência, por que eles são eleitos através do povo, e somente esse povo será capaz de mudar a realidade da educação brasileira. Nada mais somos do que os resultados do meio em que vivemos nada fazem para mudar, pois estamos conformados com essa roubalheira e não acreditamos que tenha solução. É dever do Estado, oferecer condições básicas para o acesso e permanência dos indivíduos na escola.

Sabemos que o ensino público está desgastado por culpa do governo, mas também da população não exigir melhores condições. Crianças passam a maior parte de seu tempo dentro da instituição escolar, e quase sempre saem sem aprender a ler e a escrever por motivos familiares ou por não conseguirem absorver o discurso do professor. As salas geralmente são lotadas, e o professor tenta ser contorcionista para conseguir atender a todos, e é nesse momento que muitos vão ficando de fora não compreendendo o que está a vendo.

Há problemas também com a infra-estrutura da escola. Muitas salas não possuem tamanho adequado e mesas o suficiente para atender a demanda de alunos. Há salas cheias de computadores para as aulas de informática que nem sempre funciona ou nunca funcionou por falta de professor, uma manobra que o professor poderia usar como meio de melhorar a qualidade da sua aula.

É triste saber que, dentre os muitos problemas que existem, somente uma política pública muito séria conseguiria resgatar toda a satisfação do corpo docente, dos pais e principalmente dos alunos que são os mais prejudicados nessa história.

PARO, Henrique Vitor. Por dentro da escola pública. São Paulo. Xamã, 1995.